Startups de Tecnologia e os planos de negócios

“Planos não tem valor, mas planejamento é tudo.” – Dwight D. Eisenhower

Empreender Inovando ou Inovar Empreendendo?

Uma boa definição para Startup é a de “uma organização de base tecnológica, que busca um modelo de negócios repetível, escalável e lucrativo, trabalhando para fornecer um produto ou serviço em condições de extrema incerteza”.

Pode ser um novo empreendimento ou uma nova divisão ou unidade de negócios de uma empresa existente.

Seu objetivo inicial é aprender, pois o modelo de negócio ainda é desconhecido e contém apenas hipóteses sobre mercado, clientes, recursos, canais, preços, … que não foram testadas, ou seja, está buscando ajustar seu produto ao mercado.

Uma Startup busca validar suas hipóteses do modelo de negócio, iterando e mudando/adaptando o mesmo até fazê-lo acontecer.

O modelo de negócios: Quem, O que, Como e Quando?

Buscando o modelo do negócio e o ajuste do produto ao mercado

A busca de um modelo de negócio é necessária em qualquer negócio novo – em uma Startup completamente nova ou em uma nova divisão de uma empresa já existente. Durante a busca procura-se ir a campo e conhecer melhor o cliente e suas reais necessidades para construir em paralelo um produto mínimo viável que possa atender as expectativas.  Na busca, você trabalha com uma descrição aproximada do modelo de negócios sabendo que vai mudar. As mudanças no modelo ocorrem porque as Startups aprendem com o cliente fazendo experimentos que testam as hipóteses que compõem o modelo. Na maioria das vezes esses experimentos falham e, por ser uma Startup, deve-se aceitar tal fracasso como algo natural. Ao contrário das empresas existentes onde executivos são demitidos quando não conseguem executar bem um plano, nas Startups devemos manter os fundadores e mudar o modelo.

E só a partir do momento que o modelo de negócio é conhecido, ou seja, ela conhece o seu mercado, clientes, produto / serviço, canais, preços, estratégia, e outros – é que se entra na etapa de execução. E é neste ponto que ela precisa de um plano operacional, previsões financeiras e outras ferramentas bem conhecidas de gestão.

Nas empresas tradicionais, o processo de execução do produto, com a gestão do ciclo de vida dos produtos existentes e o lançamento de novos produtos, é trabalho da gestão de produto e engenharia. Isso resulta em um processo linear onde você faz um plano e refina-o em detalhe. Quanto mais granularidade você adicionar ao plano, melhor as pessoas poderão executá-lo: um documento de requisitos de negócios leva a um documento de requisitos de mercado e então é entregue para a engenharia como um documento de especificações funcionais que é implementado através do desenvolvimento do produto (Agile ou tradicional).

Buscar um modelo de negócio exige uma organização diferente do usado para executar um plano. Tal busca exige que a empresa seja organizada em torno de uma equipe de desenvolvimento do cliente e outra de produto, lideradas pelos fundadores. Em contraste, a execução, que segue a busca, exige que a empresa seja organizada por função (gestão de produtos, vendas, marketing, desenvolvimento de negócios, etc).

Executivos de empresas estabelecidas sofrem de um “medo da cultura fracasso”, o que é bastante compreensível, já que eles foram contratados para executar um trabalho de especificação conhecida. Startups, com suas equipes de desenvolvimento de clientes e de produto têm um “aprendizado e descoberta” originados de uma cultura voltada para pesquisa.

A idéia de não ter uma organização funcional até que a organização encontre um modelo de negócio comprovado é uma das coisas mais difíceis para os empreendedores de Startups entenderem. Não há departamentos de vendas, marketing ou de desenvolvimento de negócios quando você está à procura de um modelo de negócio. Se você organizou a sua Startup com esses serviços, você não está realmente validando suas hipóteses junto ao cliente e isto é grave.

Os investidores e os planos de negócio

A visão centrada em Planos de Negócio consideram Startups como “versões menores de uma grande empresa”, e nesta visão os investidores de Capital de Risco, mesmo sabendo que “nenhum plano de negócios de Startup sobrevive ao contato com os primeiros clientes”, continuam a insistir que as Startups escrevam planos de negócios para adquirir os fundos financeiros de que precisam.  E o mais interessante é que eles entendem que é o “planejamento” do negócio e não o “plano” em si, o mais importante.

Quando falamos em planejamento, devemos ter em mente uma visão sistêmica da empresa, considerando o modelo de negócios, o desenvolvimento de produtos/serviços, o desenvolvimento cliente, a construção apropriada de equipes, finanças para empreendedores, marketing, etc.

Planos de Negócio são muito úteis para empresas e negócios padrão de mercado, onde é possível se fazer comparações e benchmarking, mas são complexos de elaborar nos casos de inovação.  Este é o caso da maioria das empresas Startups onde o negócio é uma verdadeira experimentação, geralmente diferenciado de tudo o que existe no mercado e onde algumas projeções financeiras são difíceis de prever.

Mas, após o ajuste do produto ao mercado, quando a startup está buscando crescimento e escala, ou por outra razão, muitos potenciais investidores cobrarão dos empreendedores de Startups um Plano de Negócios formal e tradicional. Neste caso recomendo começar pelo desenho do quadro (canvas) e a descrição do Modelo de Negócios, que é mais simples de compreender e de fazer, o que facilitará a visão do todo e a comunicação. Isto também será muito útil ao preparar telas (slides) de uma apresentação resumida que deverá conter: o Título (logo / nome da empresa, …), do cliente alvo o Problema/necessidade que pretende resolver, a Solução, o Modelo de Negócios, os Diferenciais, Marketing e Vendas, a Concorrência, a Equipe que vai fazer as coisas acontecerem, as Projeções, e o Status / linha do tempo.

É fundamental saber de quanto precisa (R$) e para que.

Melhor ainda é se puder demonstrar que o negócio tem tração, ou seja, uma medida de envolvimento de seu produto com o mercado (Prodtuct/Market fit). Em ordem de importância, a tração é demonstrada por meio do crescimento de receita, lucro, clientes, clientes-piloto, usuários não pagantes, e hipóteses verificadas a respeito dos problemas dos clientes. Se não tiver tração, um protótipo poderá ser muito útil.

Elementos do Plano de Negócios

O objetivo geral de um plano de negócios é demonstrar a viabilidade do mesmo e a capacidade dos empreendedores e/ou gestores de executá-lo.

Veja o Modelo do Negócio como o núcleo, que considerará vários detalhes estratégicos onde se deve prever pelo menos:

  • Sumário Executivo;
  • Equipe;
  • Modelo de Negócios (Missão/Visão/Valores, funcionamento do modelo de negócios – BM canvas , proposta de valor, mercado alvo, plano de marketing, recursos e atividades principais, …);
  • Análise Financeira (Análise do ponto de equilíbrio, Cenários de vendas e projeções, gastos capitais, custos operacionais, exigências de financiamento, …);
  • Ambiente Externo (Economia, Mercado, Tendências, Concorrência, …);
  • Mapa de Implementação (Projetos, Marcos, Mapa);
  • Análise de Risco (SWOT, Fatores limitantes e Obstáculos, FCS, …);
  • Conclusão;
  • Anexos (informações adicionais relevantes, alguma forma de demonstração do produto ajuda muito).

A Estratégia e os elementos externos ao modelo do negócio

O quadro de modelagem de negócios não contém elementos que fazem parte do ambiente externo ao modelo onde o negócio está inserido, mas que devem ser considerados, como, por exemplo, a concorrência.

Estratégia - Dimensões do ambiente do Modelo de Negócios

No ambiente externo devem ser considerados não só as Forças da Industria (5 forças de Porter) que inclui a concorrência, mas também sobre as Forças do Mercado, Principais Tendências (tecnológicas, regulatórias, sociais e culturais e socioeconômicas) e Forças Macroeconômicas que incluem a infraestrutura da economia.

Conclusão

“Num negócio, temos que começar com um propósito. E o seu propósito deve estar fora do negócio em si. Na verdade, ele deve estar na sociedade, pois uma empresa é um órgão da sociedade ….. lucro não é a explicação, causa ou razão de comportamento de negócios e decisões de negócios, mas o teste de sua validade“ – Peter Drucker

Investidores dão preferência a negócios com um mercado promissor, equipe excelente e bom produto; que não estão mais no mundo das idéias, que já conseguiram ajustar seus produtos/serviços ao mercado e estão começando a escalar o negócio.

Se for necessário apresentar um Plano de Negócios formal, pesquise um pouco a respeito, pois existem muitos exemplos disponíveis; e profissionais que podem ajudar na elaboração. Depois disso só uma boa execução com monitoração e revisões com melhoria contínua é que farão o negócio funcionar.

Se precisar de ajuda ou mentoria na preparação da Startup entre em contato.

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Sobre o autor:

Nei Grando é diretor executivo da STRATEGIUS, teve duas empresas de tecnologia, é mestre em ciências pela FEA-USP com MBA pela FGV, organizador e autor do livro Empreendedorismo Inovador, é mentor de startups e atua como consultor, professor e palestrante sobre estratégia e novos modelos de negócio, inovação, organizações exponenciais, transformação digital e agilidade organizacional.

Detalhes: aqui, Contato: aqui.

Outros artigos relevantes:

Livros recomendados:

  • Empreendedorismo Inovador – Como Criar Startups de Tecnologia no Brasil, 25 autores, Editora Évora.
  • Business Model Generation, by Alexander Osterwalder & Yves Pigneur.
  • The Startup Owner´s Manual, by Steve Blank and Bob Dorf.

Questões essenciais sobre o seu Modelo de Negócios

Ultimamente, os clientes são os únicos juízes relevantes do modelo de negócios. No entanto, você pode aumentar a vantagem competitiva de seu modelo no longo prazo, avaliando o seu desenho com algumas questões que vão muito além do foco tradicional em produtos e segmentos de mercado.

Se você já esboçou o modelo de seu negócio existente ou startup com o quadro (canvas) que descrevi no artigo A Importância da Modelagem de Negócios deve ter respondido uma série de questões iniciais sobre cada bloco do quadro. Este artigo ajudará você a repensar o seu design por meio de algumas questões estratégicas importantes e muito relevantes.

A Proposição de Valor e os Segmentos de Clientes

Cada modelo de negócio tem um produto e/ou serviço em seu centro que se concentra em um trabalho-a-ser-feito (jobs-to-be-done) pelo cliente. Neste artigo considerarei a Proposição de Valor como esta oferta de produto e/ou serviço. Agora, antes de avaliar o seu modelo de negócio como um todo, faça a si mesmo algumas perguntas básicas relacionadas à sua Proposição de Valor e aos Segmentos de Clientes que eles estão direcionados:

  • Primeiro, pergunte-se quão bem a sua Proposição de Valor está atingindo (atendendo/resolvendo) o trabalho-a-ser-feito (problema/dor, desejo ou necessidade) de seu cliente alvo. Por exemplo, se um usuário de um motor de busca tentar encontrar e comprar o tênis de correr mais recente da Nike, a medida do sucesso será quão bem o motor de pesquisa ajuda o usuário a obter o resultado desejado (tênis comprado).
  • Em segundo lugar, pergunte-se quantas pessoas ou empresas têm um trabalho-a-ser-feito semelhante. Isto lhe dará o tamanho do mercado.
  • Em terceiro lugar, pergunte-se o quão importante este trabalho é realmente para o cliente e se ele(a) realmente tem um orçamento para gastar com ele.

Para saber mais sobre o ajuste de sua oferta de Produtos/Serviços ao Segmento de Clientes, leia o artigo sobre o Quadro Cliente-Valor e o artigo Modelo de Desenvolvimento do Cliente.

Isto é o básico. No entanto, mesmo os melhores produtos estão tendo cada vez mais dificuldade de alcançar uma vantagem competitiva de longo prazo. Esta é a razão pela qual você precisa mudar seu foco de uma abordagem pura orientada de segmento de mercado / produto para uma abordagem mais holística de modelo de negócio. Abaixo estão algumas perguntas úteis para avaliar seu projeto modelo de negócio. Classifique o desempenho do seu modelo de negócios em uma escala de 0 (ruim) a 10 (excelente) para cada questão.

1. Quanto custa ao seu cliente mudar de fornecedor?

O tempo, esforço, ou o orçamento que um cliente tem que gastar para passar de um produto ou prestador de serviços para outro é chamado de “custos de mudança” (switiching costs). Quanto maior os custos de mudança, mais provável que um cliente fique ligado a um fornecedor, em vez de deixar os produtos ou serviços deste para um concorrente. Um grande exemplo de projetar os custos de mudança para um modelo de negócio foi a introdução do iPod da Apple, em 2001. Você se lembra como Steve Jobs anunciou seu novo produto com o slogan “mil músicas no bolso”? Bem, isso era mais do que uma inovação de produto com foco no armazenamento. Foi uma estratégia modelo de negócio para conseguir que seus clientes copiassem todas as suas músicas para o iTunes e seu iPod, o que tornaria mais difícil a eles mudarem para outros competidores tocadores de música digital. Numa época em que pouco mais do que a preferência de marca estava impedindo as pessoas de mudarem de um tocador de músicas para outro, esta foi uma jogada inteligente e lançou as bases para o posterior reduto da Apple na música e em futuras inovações.

2. Quão escalável é o seu modelo de negócio?

Escalabilidade descreve o quão fácil é expandir um modelo de negócio sem aumentar na mesma proporção a sua base de custos. É claro que modelos de negócios e software baseados na Web são naturalmente mais escaláveis do que aqueles baseados em tijolos e cimento, mas mesmo entre os modelos de negócios digitais existem grandes diferenças. Um exemplo impressionante de escalabilidade é o Facebook. Com apenas alguns milhares de engenheiros eles criam valor para centenas de milhões de usuários. Apenas poucas empresas no mundo têm uma relação como esta de usuários por empregado. Uma empresa que tem atingido limites ainda maiores é a empresa Zynga de jogos sociais. Através da construção de jogos como Farmville ou Cityville para o Facebook, atualmente a maior rede social do mundo, eles puderam se beneficiar do alcance do Facebook (e sua escala) sem ter que construir uma plataforma/rede própria.
Uma empresa que rapidamente aprendeu suas lições sobre escalabilidade foi a empresa de comunicação par-a-par (peer-to-peer) Skype em seus primeiros dias. Seu relacionamento com o cliente entrou em colapso sob o peso dos grandes números, quando eles estavam assinando até dezenas de milhares de usuários por dia. Eles tiveram de  adaptar rapidamente o modelo de negócio para ser mais escalável.

3.  Seu modelo de negócio produz receitas recorrentes?

Receitas recorrentes são melhor explicadas através de um exemplo simples. Quando um jornal ganha as receitas provenientes da venda em uma banca de jornais as receitas são transacionais, enquanto que as receitas de assinaturas são recorrentes. Receitas recorrentes têm duas grandes vantagens. Em primeiro lugar, os custos de vendas incorrem apenas uma vez para as receitas repetitivas. Em segundo lugar, com receitas recorrentes você tem uma ideia melhor de quanto você vai ganhar no futuro. Um bom exemplo de receitas recorrentes é o da Redhat, que fornece software de código aberto (Linux) e apoio às empresas com base numa base de subscrição contínua. Neste modelo os clientes não pagam por novas versões de software, pois a versão é continuamente atualizada. No mundo do Software como Serviço (SaaS), esse tipo de assinaturas é agora a norma. Isto contrasta com a Microsoft, que vende a maioria de seus softwares na forma de licenças para cada grande lançamento. No entanto, há outro aspecto a receitas recorrentes, que são as receitas adicionais geradas pela venda inicial. Por exemplo, quando você compra uma impressora, você continuará a gastar com cartuchos, ou quando você comprar uma console de jogos, você vai continuar a gastar em jogos. Ou olhe para a Apple. Ao mesmo tempo que ainda ganham a maior parte de suas receitas de vendas de hardware, as receitas recorrentes de conteúdo e aplicativos está em constante crescimento. Outro exemplo desta estratégia isca-e-anzol é o de aparelhos de barbear x cartuchos.

4. Você ganha antes de gastar?

Quanto mais você pode ganhar antes de gastar, melhor. A Dell foi pioneira neste modelo na indústria de transformação de hardware de computador. Montando o equipamento conforme o pedido depois de vender diretamente ao usuário, eles conseguiram escapar dos custos de estoque que tem terrível desvalorização na indústria de hardware. Os resultados mostraram o quão poderoso é ganhar antes de gastar.

5. Quanto você conduz os outros a fazer o trabalho?

Esta é provavelmente uma das armas menos divulgadas no design do modelo de negócios. O que poderia ser mais poderoso do que conseguir que os outros façam o seu trabalho enquanto você ganha o dinheiro? A IKEA faz seus clientes montar os móveis que compram deles. Ou seja, o cliente faz parte do trabalho deles. Eles economizam dinheiro. O Facebook nos faz postar fotos, criar e participar de conversas, e outras coisas “Gostei”. Esse é o valor real do Facebook, totalmente criado por usuários, enquanto a empresa simplesmente fornece a plataforma. Nós fazemos o trabalho. Eles ganham avaliações muito altas de suas ações.
A Redhat, mencionada anteriormente, trabalha outro modelo de negócios inteligente baseado no trabalho de outras pessoas. Seu modelo de negócio inteiro é construído em cima de softwares desenvolvidos pela comunidade de desenvolvimento de software de fonte aberto (open source). Isto lhes permitiu reduzir substancialmente os custos de desenvolvimento e competir de frente com grandes empresas como a Microsoft.
Um modelo de negócio mais malicioso em que outros fazem o trabalho é aquele praticado por chamados de trolls de patente. Neste modelo as patentes são compradas com a única intenção de processar as empresas de sucesso e obter os pagamentos delas.

6. Será que o seu modelo de negócio fornece autoproteção da concorrência?

Um bom modelo de negócio pode fornecer uma melhor proteção de longo prazo da concorrência do que um ótimo produto. A principal vantagem competitiva da Apple surge mais a partir de seu modelo de negócio poderoso do que puramente de seus produtos inovadores. É mais fácil para Samsung, por exemplo, copiar o iPhone do que construir um ecossistema como a AppStore da Apple, que atende a desenvolvedores e usuários e armazena centenas de milhares de aplicações.

7.  Seu modelo de negócios é baseado em uma estrutura de mudança de jogo de custos?

Redução de custos é um esporte muito praticado no mundo dos negócios. Alguns modelos de negócio, no entanto, vão além da redução de custos através da criação de valor com base em uma estrutura de custos totalmente diferente. A Skype, por exemplo, oferece chamadas e comunicação quase como uma empresa de telecomunicações convencional, mas de graça ou por um custo muito baixo. Eles podem fazer isso porque o seu modelo de negócio tem uma estrutura de custos muito diferente. Na verdade, o modelo da Skype é baseado na economia de uma empresa de software, enquanto um modelo de provedor de telecomunicações é baseado na economia de uma empresa de rede. O custos da primeira é principalmente com pessoas, enquanto que o custo desta última inclui despesas de capital enorme em infraestrutura. Da mesma forma, a Bharti Airtel, uma das maiores empresas fornecedoras de redes de telefonia celular do mundo, mudou substancialmente sua estrutura de custos se livrando de sua rede inteira e TI. Ao comprar capacidade de rede com base em custo variável de um consórcio em torno dos fabricantes de equipamentos de rede Ericsson e IBM, eles podem agora oferecer entre os preços mais baixos de telefonia móvel a nível mundial. A Redhat, que foi mencionado anteriormente, também construiu seu modelo de negócios em uma estrutura de custos baseada em mudança de jogo: por construir de forma inteligente o seu próprio modelo em cima do trabalho de outras pessoas.

8. Como é que seu design de modelo de negócio se comporta?

É claro que nenhum modelo de negócios consegue pontuações 10 a cada uma das perguntas acima. Alguns podem até ter sucesso no mercado sem se destacar em tudo. No entanto, perguntando a si mesmo estas perguntas e se destacando bem em pelo menos algumas questões é muito provável que você aumente substancialmente a vantagem competitiva de longo prazo do seu negócio.

Concluindo

Depois de tantas questões e reflexões, agora o que você precisa fazer é testar o seu modelo de negócio com o juiz real: o mercado. Mas antes disso leia mais este artigo muito útil: O Modelo de Desenvolvimento do Cliente.

Meu endereço no Twitter é: @neigrando ou clique aqui para entrar em contato.

Artigos relacionados

Referências

A Proposta de Valor e o Segmento de Clientes

Desde 2011 tenho participado ativamente no ecossistema de empreendedorismo brasileiro, buscando por oportunidades de negócio e mentorando vários fundadores e cofundadores de Startups. Busquei conhecer um pouco mais sobre o que está acontecendo neste novo mundo de negócios, li muito a respeito e estive presente e contribuindo em diversos eventos de apoio a Startups de Tecnologia. Foi então que, procurando responder a algumas questões que me faziam sobre tais negócios, principalmente sobre clientes e sobre produtos, encontrei algumas respostas. Desejo compartilhar um pouco disso com você neste artigo que complementa alguns outros que já postei.

Os Segmentos de Clientes definem diferentes grupos de pessoas ou organizações que uma empresa pretende alcançar e servir. São os clientes quem compõe o coração de qualquer modelo de negócio, pois sem clientes (rentáveis), nenhuma empresa pode sobreviver por muito tempo. A fim de melhor satisfazer os clientes, uma empresa pode agrupá-los em segmentos distintos, com necessidades comuns, comportamentos comuns, ou outros atributos. Um modelo de negócios pode definir um ou vários segmentos de clientes, grandes ou pequenos. A organização deve tomar uma decisão consciente sobre quais segmentos servirá e quais segmentos ignorará. Uma vez que esta decisão é tomada, um modelo de negócios pode ser cuidadosamente projetado em torno de uma forte compreensão das necessidades específicas do cliente.

Grupos de clientes representam segmentos distintos se:

  • As suas necessidades exigem e justificam uma oferta distinta.
  • Eles são alcançados através de canais de distribuição diferentes.
  • Exigem diferentes tipos de relacionamentos.
  • Eles têm Rentabilidade substancialmente diferente.
  • Eles estão dispostos a pagar por características diferentes da oferta

Proposição de Valor (oferta) descreve os pacotes de produtos e serviços que criam valor para um segmento de clientes específico. A proposição de valor é a razão pela qual os clientes escolhem uma empresa em detrimento de outra. Ela resolve um problema ou satisfaz uma necessidade do cliente. Cada proposição de valor é composta de um conjunto selecionado de produtos e/ou serviços que atende às exigências de um Segmento de Clientes específico. Nesse sentido, a proposição de valor é uma agregação, ou pacote, de benefícios que uma empresa oferece aos clientes. Algumas proposições de valor podem ser inovadoras representando uma oferta nova ou diferenciada. Outras podem ser semelhantes às ofertas existentes no mercado, mas com características e atributos adicionais.

Quando estamos trabalhando o quadro (canvas) de Modelagem de Negócios, que descrevi em artigo anterior percebemos claramente que se temos dois segmentos de clientes distintos, geralmente teremos duas proposições de valor distintas correspondentes. E que nestes casos devemos utilizar Post-Its de cores diferentes para representá-los no quadro.

Um quadro específico para trabalhar Cliente-Valor

O quadro de geração de Modelos de Negócios, está orientado para a visão do todo. Sendo assim, ele não está orientado aos os detalhes de uma determinada Proposição de Valor, nem do seu ajuste às necessidades de um determinado Segmento de Clientes. Pensando nisso Alexander Osterwalder nos propôs outro quadro específico para tratar da relação entre estes dois blocos, uma espécie de plug-in ao quadro geral.

O quadro Cliente-Valor que ele propôs abaixo descreve:

  • A) Para um Segmento de Clientes (à direita): determinar que trabalho o cliente está tentando fazer (resolver um problema/necessidade, satisfazer desejos) e quais são todas as dores que o cliente quer evitar e as expectativas de ganhos que tem;
  • B) Para uma Proposição de Valor correspondente (à esquerda): o pacote de produtos e serviços orientados para o cliente e o que se espera deles no que diz respeito a criar ganhos ou aliviar dores.
Fonte: Adaptação a partir da imagem original em http://www.businessmodelalchemist.com

Para trabalhar este quadro que detalha a relação entre um Segmento de Clientes e a Proposição de Valor procure seguir estes passos, onde os itens de 1 a 5 são focados no Cliente (observações relacionadas ao problema/necessidade) e os de 6 a 10 focados no Valor (desenho da solução):

  1. Selecione um Segmento de Clientes específico para o Quadro Cliente-Valor acima;
  2. Este segmento se tornará o que você delineará com mais detalhes no lado direito do quadro;
  3. Determine o(s) Trabalho(s) específico(s) que este segmento do cliente está tentando fazer. Para um leitor de música digital, por exemplo, o trabalho seria: compra, download, transferência, e listagem de música;
  4. Agora esboce todas as coisas que representam um Ganho para o cliente no trabalho delineado. Para o exemplo anterior podem ser a conveniência, ter todas as músicas disponíveis a qualquer momento, a possibilidade de comprar novas músicas, tocar música automaticamente de acordo com seu humor, etc.;
  5. Finalmente, descreva todas as coisas que representam uma Dor para o cliente no trabalho delineado. Para o leitor de música digital isso pode ser o peso de um dispositivo, a sua curva de aprendizado, a vida da bateria, etc.;
  6. Selecione uma Proposição de Valor visando o Segmento de Clientes descritos no lado direito do Quadro Cliente-Valor;
  7. Essa é a Proposição de Valor a delinear com mais detalhe no lado esquerdo do quadro Cliente-Valor;
  8. Especifique o pacote de Produtos e Serviços especialmente orientado para o segmento de clientes selecionado. Para o leitor de música digital, por exemplo, o pacote de produtos e serviços pode consistir de um dispositivo, um software, e uma loja online … isso te lembra algo? Eu estou falando sobre o iPod, é claro;
  9. Agora descreva exatamente como esse conjunto de produtos e serviços deve Criar Ganhos. Para o iPod seria através da oferta de “mil músicas no bolso” (lembra desta sentença que o Steve Jobs repetiu muitas vezes quando lançou o iPod?), oferecendo acesso a uma loja on-line com conteúdo de todas as grandes gravadoras, etc.;
  10. Finalmente, descreva exatamente como o pacote de produtos e serviços deve Aliviar a Dor do cliente quanto ao trabalho delineado. Para o iPod seria a redução da curva de aprendizado através da integração contínua de hardware e software e a eliminação de ter que subir-e-baixar constantemente músicas, devido à pequena capacidade de armazenamento (antes do iPod os tocadores de música digital podiam armazenar um álbum com cerca de 24 músicas)

Com este processo acima, fica mais fácil se pensar o Ajuste do Produto ao Mercado que descrevi no artigo: O Modelo de Desenvolvimento do Cliente.

Eu poderia encerrar o artigo por aqui, mas lembrei de que, ao se pensar sobre segmento de clientes, é bom ter em mente que existem diferentes tipos de tais segmentos. E pensar também que existem muitos elementos que podem contribuir para a criação de valor para o cliente, que descreverei abaixo.

Alguns Tipos de Segmentos de Clientes e exemplos:

  • Mercado de massa – Os modelos de negócios com foco em mercados de massa não fazem distinção entre os diferentes segmentos de clientes. Proposições de Valor, Canais de Distribuição e Relacionamento com Clientes têm todo o foco em um grande grupo de clientes com necessidades e problemas muito similares. Este tipo de modelo de negócio é freqüentemente encontrado no setor de eletrônicos de consumo.
  • Nicho de mercado – Neste caso os modelos de negócios são voltados para atender nichos específicos, com Segmentos de Clientes especializados. Proposições de Valor, Canais de Distribuição e de Relacionamento com Clientes são todos adaptados às necessidades específicas de um nicho de mercado. Tais modelos de negócios são freqüentemente encontrados nas relações fornecedor-comprador. Por exemplo, muitos fabricantes de peças de carro dependem consideravelmente de compras de grandes fabricantes de automóveis.
  • Segmentados – Alguns modelos de negócios distinguem entre os segmentos de mercado com necessidades e problemas ligeiramente diferentes. O braço de varejo de um banco como o Credit Suisse, por exemplo, pode distinguir entre um grande grupo de clientes, com cada cliente possuindo bens de até 100 mil reais, e um pequeno grupo de clientes afluentes, cujo valor líquido de cada um ultrapassa 500 mil reais. Ambos os segmentos são semelhantes, mas têm necessidades e problemas que variam. Isto tem implicações para os outros blocos de construção do modelo de negócios do Credit Suisse, tais como Proposição de Valor, Canais de Distribuição, Relacionamento com Clientes e Fluxos de Receita. Considere sistemas de micro precisão, especializados na prestação de design micromecânico terceirizado e soluções de manufatura. Servem três Segmentos de Clientes diferentes – a indústria de relojoaria, a indústria médica e do setor de automação industrial – cada um oferecendo Proposições de Valor ligeiramente diferentes.
  • Diversificados – Uma organização com um modelo de negócios diversificado de clientes serve dois Segmentos de Clientes independentes com necessidades e problemas muito diferentes. Por exemplo, em 2006 a Amazon.com decidiu diversificar o seu negócio de varejo com a venda de serviços cloud computing: espaço de armazenamento on-line e uso do servidor sob demanda. Assim ela começou a atingir de um Segmento de Clientes totalmente diferente, as empresas da Web, com uma Proposta de Valor totalmente diferente. O raciocínio estratégico por trás dessa diversificação pode ser encontrado na poderosa infraestrutura de TI da Amazon.com, que pode ser compartilhada por suas operações de vendas a varejo com a nova unidade de serviço de computação em nuvem.
  • Plataformas multi-face (ou mercados multi-verso) – Algumas organizações têm dois ou mais segmentos de clientes interdependentes. Uma empresa de cartão de crédito, por exemplo, precisa de uma grande base de titulares de cartão de crédito e uma grande base de comerciantes que aceitam os cartões de crédito. Da mesma forma, uma empresa que oferece um jornal gratuito precisa de uma base de leitores para atrair grandes anunciantes. Por outro lado, precisa também de anunciantes para financiar a produção e distribuição. Ambos os segmentos são necessários para fazer funcionar o modelo de negócios.

Elementos que podem contribuir para a criação de valor ao cliente, e exemplos:

  • Novidade – Algumas Proposições de Valor satisfazem um novo conjunto de necessidades que os clientes antes não percebiam porque não havia oferta similar. Isto é freqüentemente, mas nem sempre, relacionado à tecnologia. Telefones celulares, por exemplo, criaram toda uma nova indústria em torno de telecomunicações móveis. Por outro lado, produtos como fundos de investimentos éticos têm pouco a ver com a nova tecnologia.
  • Desempenho – Melhorar o desempenho do produto ou serviço tem sido tradicionalmente uma forma comum de criar valor. O setor de PC tradicionalmente contava com este fator, trazendo máquinas mais poderosas para o mercado. Mas a melhoria de desempenho tem seus limites. Nos últimos anos, por exemplo, os PCs mais rápidos, com mais espaço de armazenamento em disco e gráficos melhores, não produziram o correspondente crescimento da demanda do cliente.
  • Personalização – Adaptar produtos e serviços às necessidades específicas de clientes individuais ou Segmentos de Clientes cria valor. Nos últimos anos, os conceitos de customização em massa para clientes e cocriação ganharam importância. Esta abordagem permite fornecer produtos e serviços personalizados, tirando proveito das economias de escala.
  • Fazer as coisas acontecerem – O valor pode ser criado simplesmente por ajudar um cliente a realizar o seu trabalho. Rolls-Royce entende isso muito bem: seus clientes de companhias aéreas dependem inteiramente da Rolls-Royce para a fabricação e serviço de seus motores de jato. Este arranjo permite que os clientes se concentrem no funcionamento as suas companhias aéreas. Em contrapartida, as companhias aéreas pagam para a Rolls-Royce uma taxa por cada hora de um motor funcionando.
  • Design – Design é um elemento importante, mas difícil de medir. Um produto pode se destacar por causa da qualidade superior. Nas indústrias de eletrônicos de consumo e moda, o design pode ser uma parte particularmente importante da proposta de valor.
  • Marca / Status – Os clientes podem encontrar valor no ato simples de usar e exibir uma marca específica. Vestir um relógio Rolex significa riqueza, por exemplo. Na outra extremidade do espectro, os skatistas poderão usar as mais recentes marcas “underground” para mostrar que estão “in”.
  • Preço – Oferta de valor semelhante a um preço mais baixo é uma forma comum de satisfazer as necessidades dos segmentos de clientes sensíveis ao preço. Mas Proposições com baixa relação de preço têm implicações importantes para o resto do modelo de negócio. Companhias aéreas, como a Southwest, EasyJet, Ryanair e projetaram modelos de negócios inteiros especificamente para permitir viagens aéreas de baixo custo. Outro exemplo de uma Proposição de Valor baseada no preço pode ser visto no Nano, um carro projetado e fabricado pelo conglomerado indiano Tata. Seu preço surpreendentemente baixo faz com que o automóvel seja acessível a todo um novo segmento da população indiana. Cada vez mais, ofertas gratuitas estão começando a permear várias indústrias. Ofertas grátis variam de jornais gratuitos a serviços de e-mail gratuito, serviços de telefone celular gratuitos, e muito mais.
  • Redução de custos – Ajudar os clientes a reduzir custos é uma maneira importante de criar valor. A Salesforce.com, por exemplo, fornece uma aplicação hospedada de Gestão de Relacionamento com Clientes Management (CRM) na nuvem. Isto alivia os compradores da despesa inicial de compra e o incômodo de ter que comprar, instalar e gerenciar o software de CRM.
  • Redução de riscos – Os clientes valorizam a redução dos riscos em que incorrem ao comprar produtos ou serviços. Para um comprador de carro usado, uma garantia de serviço de um ano reduz o risco de ter que pagar por avarias e reparos pós-compra. A garantia de nível de serviço parcialmente reduz o risco assumido pelo adquirente dos serviços terceirizados de TI.
  • Acessibilidade – Tornar os produtos e serviços disponíveis para os clientes que antes não tinham acesso a eles é outra forma de criar valor. Isso pode resultar de inovação do modelo de negócios, novas tecnologias, ou uma combinação de ambos. NetJets, por exemplo, popularizou o conceito de propriedade fracionada de jatos privados. Usando um modelo de negócios inovador, a NetJets oferece aos indivíduos e empresas o acesso a jatos particulares, um serviço anteriormente inacessível para a maioria dos clientes. Os fundos mútuos são outro exemplo de criação de valor através de uma maior acessibilidade. O produto financeiro inovador tornou possível, mesmo para aqueles com riqueza modesta, a construção de carteiras de investimento diversificadas.
  • Conveniência / Usabilidade – Fazer as coisas mais convenientes ou mais fáceis de usar pode criar um valor substancial. Com o iPod e o iTunes, a Apple oferece aos clientes a conveniência sem precedentes de pesquisar, comprar, baixar e ouvir música digital. Ela agora domina o mercado.

Concluindo

Para encerrar digo que é tão importante alinhar Segmento de Clientes com Proposição de Valor que alguns autores que descrevem modelos de negócios colocam os dois juntos como um único elemento e que chamam de Proposição de Valor ao Cliente, do original em inglês CVP – Customer Value Proposition.

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