Racionalidade Limitada e Vieses Cognitivos

A limitação da racionalidade procura compreender aspectos que influenciam a tomada de decisão do indivíduo baseada em sua limitação de informação. Essa teoria, desenvolvida primeiramente por Herbert Simon, propõe a complementação da racionalidade como “otimização”, que vê a tomada de decisão como um processo totalmente racional de encontrar uma opção ideal dada a informação disponível.

Para Herbert Simon, a racionalidade pessoal está limitada por três dimensões:

  1. A informação disponível;
  2. A limitação cognitiva da mente individual;
  3. O tempo disponível para tomada de decisão.

Herbert Simon assinala que a maioria das pessoas são só parcialmente racionais e que elas agem através de impulsos emocionais não totalmente racionais em muitas de suas ações.

Ao deparar-se com algum tipo de problema que seja mais complexo dos que ocorrem no dia a dia, a reação natural de todo indivíduo é reduzir o problema a um modelo que seja mais fácil de compreender. Isso ocorre devido à limitação na absorção de todas as informações e o tempo necessário para sintetizá-las e processá-las. Por isso, contenta-se com as decisões que sejam satisfatórias o suficiente e que atendam as devidas expectativas, porém a decisão tomada não necessariamente é a ideal.

Vieses Cognitivos

A limitação cognitiva se dá pelos vieses cognitivos, tendências psicológicas que levam o cérebro humano a tirar conclusões incorretas. Tais preconceitos são considerados uma forma de “atalho cognitivo”, geralmente baseado em regras práticas, e incluem erros no julgamento estatístico, na atribuição social e na memória. Esses vieses são um resultado comum do pensamento humano e muitas vezes distorcem drasticamente a confiabilidade de evidência anedótica e legal. O fenômeno é estudado em ciência cognitiva e psicologia social.

Existem dezenas de vieses cognitivos. Segue uma lista de 12 vieses mais comuns no processo decisório, conforme o quadro que resume o capítulo 2 do livro “Processo Decisório” de Max H. Bazerman e Don Moore.

Vieses Cognitivos no Processo Decisório

Vieses que emanam da Heurística da Disponibilidade

  1. Facilidade de lembrança – Indivíduos julgam que eventos que são mais facilmente recuperados da memória, com base na vivacidade ou recência, são mais numerosos do que os eventos de igual frequência cujas instâncias são menos facilmente lembradas.
  1. Recuperabilidade – Os indivíduos são tendenciosos em suas avaliações da frequência de eventos com base em como as suas estruturas de memória afetam o processo de pesquisa.

Vieses que emanam da Representatividade Heurística

  1. Insensibilidade aos índices básicos – Ao avaliar a probabilidade de eventos, as pessoas tendem a ignorar os índices básicos, caso qualquer outra informação descritiva seja fornecida, mesmo que seja irrelevante.
  1. Insensibilidade ao tamanho da amostra – Ao avaliar a confiabilidade das informações de amostra, os indivíduos frequentemente deixam de apreciar o papel do tamanho da amostra.
  1. Interpretações erradas da chance – Indivíduos esperam que uma sequência de dados gerados por um processo aleatório pareça “randômica”, mesmo quando a sequência é demasiadamente curta para essas expectativas sejam estatisticamente válidas.
  1. Regressão à média – Indivíduos tendem a ignorar o fato de que eventos extremos tendem a regredir à média em ensaios subsequentes.
  1. A falácia da conjunção – Indivíduos falsamente julgam que conjunções (dois eventos que ocorrem concomitantemente) são mais prováveis de acontecer do que um conjunto mais global de ocorrências do qual o conjunto é um subconjunto.

Vieses que emanam da Heurística da Confirmação

  1. A armadilha de confirmação – Os indivíduos tendem a buscar informações que confirmam o que eles acham que é verdade e deixam de procurar evidências que não confirmam. [ou seja, buscam confirmar aquilo que acreditam, sem questionar] 
  1. Ancoragem – Indivíduos fazem estimativas para valores com base em um valor inicial (derivado de eventos passados, a atribuição aleatória, ou qualquer informação estiver disponível) e, normalmente, fazem ajustes insuficientes a partir da âncora ao estabelecer um valor final.
  1. Vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos – Indivíduos mostram uma tendência para superestimar a probabilidade de eventos conjuntivos e subestimar a probabilidade de eventos disjuntivos.
  1. O excesso de confiança – Os indivíduos tendem a ser excessivamente confiantes na infalibilidade de seus julgamentos ao responder a perguntas extremamente difíceis.
  1. Previsão retrospectiva (hindsight) e a maldição do conhecimento – Depois de descobrir se ou não um evento ocorreu, as pessoas tendem a superestimar o grau em que eles teriam previsto o resultado correto. Além disso, os indivíduos não conseguem ignorar informações que possuem, mas que os outros não tem ao prever o comportamento dos outros.

Considerações finais:

Ao tomar decisões, precisamos estar cientes de nossa racionalidade limitada, manifesta através de vieses cognitivos, padrões de distorção de julgamento que ocorrem em situações particulares, levando à distorção perceptual, julgamento pouco acurado, interpretação ilógica, ou o que é amplamente chamado de irracionalidade.

Mais detalhes sobre os vieses podem ser encontrados no capítulo 2 do livro de Bazerman & Moore.

“Nosso conhecimento só pode ser finito, mas nossa ignorância deve ser necessariamente infinita.  … Vale a pena lembrar que, embora haja uma vasta diferença entre nós no que diz respeito aos fragmentos que conhecemos, somos todos iguais no infinito de nossa ignorância.” – Karl Popper

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Referências:

  • Baserman, Max H., & Moore, Don. (2010). Processo Decisório. Tradução de Daniel Vieira. Rio de Janeiro: Elsevier. p. 55-56.
  • Haselton, Martie G., Nettle Daniel, & Andrews Peter W. (2005). “The evolution of cognitive bias” in Buss DM (ed.). The Handbook of Evolutionary Psychology. Hoboken, NJ, US: John Wiley & Sons Inc. p. 724–746.
  • Simon, Herbert.(1957). “A Behavioral Model of Rational Choice” in Models of Man, Social and Rational: Mathematical Essays on Rational Human Behavior in a Social Setting. New York: Wiley.

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