Técnicas para Vendas de Soluções

Ao longo dos anos em minhas atividades como Gestor de Empresas que atuavam com soluções de tecnologia para atender empresas (indústrias, bancos, corretoras de valores, …), busquei sempre as melhores práticas de mercado para treinar meu pessoal de vendas, entre elas uma conhecida por Solution Selling. Mais tarde esse conhecimento foi útil para atender meus clientes de consultoria em gestão e negócios.

A primeira coisa é entender que vender soluções B2B deste tipo não é tão simples como vender produtos de prateleira ou algum tipo de serviço pontual. Soluções de Tecnologia geralmente envolvem pacotes que incluem entendimento real da necessidade do cliente, consultoria para atender a necessidade, utilização do sistema de software apropriado para implementar a solução, com customização, implantação, treinamento e posteriormente, no pós venda, manutenção e suporte técnico apropriado.

A segunda coisa é que nem todo “vendedor” tem a competência de vender soluções desse tipo, pois é necessário uma base de conhecimentos considerável em negócios e tecnologia e saber trabalhar a relação com os diversos decisores envolvidos.

Veja abaixo os principais elementos de um processo de vendas desse tipo.

Pontos a considerar na Venda de Soluções

  • Identificar no mercado oportunidades de vendas de soluções da empresa (pesquisa);
  • Gerar interesse por Soluções da empresa (marketing);
  • Identificar problemas de negócios críticos dos clientes que poderiam ser endereçados por soluções da empresa;
  • Criar desejo por uma solução que enderece um problema crítico de negócio de um cliente baseado na capacidade de uma solução específica da empresa;
  • Efetuar análise e comparativos dos principais concorrentes;
  • Alterar uma visão de um cliente voltada para a concorrência para uma solução da empresa;
  • Diagnosticar um problema de negócio de um cliente que leve a aceitação de uma solução de tecnologia da empresa;
  • Criar uma proposição de valor que suporte uma solução da empresa;
  • Classificar e Qualificar cada etapa do ciclo de vendas;
  • Ter acesso ao poder, ao que decide, seja por autoridade ou por influência;
  • Demonstrar Capacidades;
  • Criar uma Visão de Compra das Capacidades citadas durante o processo de vendas;
  • Explorar ao máximo os valores da Solução Oferecida;
  • Fechar todas as oportunidades possíveis!

O básico a ser considerado

PAIN:

  • SEM DOR, NÃO HÁ MUDANÇA
  • DOR = PROBLEMA
  • Posição Crítica e atual de uma Determinada Situação ou Negócio.

VENDA É CONFIANÇA:

  • EXPERIÊNCIA DE MERCADO (Conhecimento)
  • CLIENTES REFERÊNCIA / INDICAÇÕES
  • TRANSPARÊNCIA
  • COMPETÊNCIA

EMPATIA:

  • TER A CAPACIDADE DE  COLOCAR-SE  NO LUGAR DO OUTRO, ENTENDENDO OS PROBLEMAS, AS SITUAÇÕES.
  • UM BOM VENDEDOR UTILIZA-SE DA EMPATIA  PARA CRIAR RAPORT COM O COMPRADOR E CONSEQUENTEMENTE OBTER CONFIANÇA.

PESSOAS COMPRAM DE PESSOAS!

Etapas de uma Venda de Soluções

  • Prospectar Clientes. (Utilizar métodos Sollution Selling – Cold Call, participação de eventos para aproximação com os decisores, … )
  • Site na internet sempre atualizado e adequado ao discurso de vendas;
  • Agendar visitas. Informe-se ao máximo que puder sobre o seu cliente através de pesquisas na Internet e outros canais. Mostrar ao cliente que você conhece o modelo de negócio dele gerando Confiança.
  • Planejar uma visita, procurando sempre acesso ao poder;
  • Visitar o cliente identificando oportunidades através de problemas (dor) ou criando situações, circunstâncias de vendas;
  • Criar Visão de Compra no Cliente através de Prova de Capacidades.

Preparação para uma visita/reunião

  • Procurar saber quem é o cliente, se é uma empresa nacional ou uma empresa Multinacional com filiais no Brasil e no Exterior;
  • Saber ou procurar entender qual é o negócio do cliente. Entre no Website e perfis de Mídia Social da empresa e obtenha todas as informações necessárias;
  • Procure saber também qual a situação financeira da empresa, se está em processo de falência / concordata, posições de crédito, etc… 
  • Tente descobrir através de sua experiência no mercado, se você é a primeira empresa que estará oferecendo esta solução ou se há concorrentes no processo;
  • Há vantagens e desvantagens em ser o primeiro fornecedor a visitar o cliente.
  • Tente descobrir e obter vantagens sobre isso;
  • Saber sobre as características do seu Interlocutor, ou seja, do Sponsor ou do Power Sponsor, facilitará o andamento da reunião e da criação de raport;
  • Saiba tudo ou quase tudo sobre a solução que está apresentando bem como nomes de clientes referências na ponta da língua; lembre-se que: respostas mal dadas ou duvidosas causam insegurança e desconfiança no cliente;
  • Prepare-se para se deparar com todo e qualquer tipo de pessoa, mas antes de tudo, demonstre que você sabe escutar;
  • Bons negócios.

Por favor, se gostou, compartilhe – precisamos difundir informações selecionadas e curadas para possibilitarmos melhores organizações, que melhorarão nossa economia e por consequência proverão maior valor à sociedade. Abraço, @neigrando

Sobre o Autor

Nei Grando é diretor da STRATEGIUS, mentor, consultor, professor e palestrante sobre estratégia. inovação e transformação digital. Teve duas empresas de TI (plataformas de negócios, portais e serviços). É mestre em Ciências pela FEA-USP (inovação) com MBA pela FGV, organizador e autor do livro “Empreendedorismo Inovador: Como criar Startups de Tecnologia no Brasil”, e autor em outros dois. Vide CV profissional no LinkedIn – e acadêmico no CNPq Lattes.

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Auditoria Estratégica em PMEs e Startups investidas

Introdução

A Auditoria estratégica é um processo para determinar a causa raiz das variações negativas do plano de negócios da empresa. Como regra geral, se uma empresa alcançar menos do que setenta por cento de seus indicadores financeiros por dois trimestres consecutivos, a administração deve realizar uma auditoria estratégica.

Não há nenhum benefício em retardar a determinação da causa raiz de um baixo desempenho financeiro. Problemas não se resolvem sozinhos. Problemas tendem a crescer com o tempo. Dinheiro queimado em atividades improdutivas não pode ser substituído.

Embora os objetivos e as métricas da empresa são expressos em termos financeiros como de receitas, dinheiro, gastos e lucros, a administração deve evitar simplesmente assumir que deficiências são o resultado de má execução em Marketing e Vendas. Na maioria dos casos a causa raiz do baixo desempenho da empresa é uma profunda falha, mais fundamentalmente nas premissas da empresa, estratégia ou produto. Continuar a gastar recursos em Marketing e Vendas, quando um problema mais fundamental existe é um desperdício de dinheiro.

Em uma auditoria estratégica, a gestão deve examinar sistematicamente as quatro áreas que afetam mais diretamente o desempenho da empresa:

  1. Execução em cada departamento funcional
  2. Modelo de Negócios e Estratégia da empresa
  3. Mercado Alvo
  4. Produto

Após a realização da auditoria, a administração deve ter uma compreensão justa se a empresa tem um problema de execução simples ou um problema fundamental, mais difícil de corrigir.

A Auditoria Estratégica deve começar com uma análise de cada departamento por que problemas de execução são os mais fáceis de identificar e corrigir. Se for determinado que a execução não é um problema na empresa, então, a administração pode ter que fazer algumas decisões difíceis sobre as suposições do seu núcleo, modelo de negócio e estratégia.

Aceitar e agir sobre uma falha fundamental no plano de negócios da empresa é muitas vezes difícil para a equipe de gestão e para os investidores da empresa. Se os indicadores apontam para uma questão central na base original da empresa, a administração deve realizar rapidamente a auditoria necessária para ficar confortável com o resultado e então agir de forma decisiva. Não há nenhum benefício em adiar decisões difíceis, mas fundamentais. Dinheiro está queimando!

As seguintes seções descrevem uma série de perguntas que a gestão deve perguntar-se sobre cada uma das áreas.

I. Execução

Revisões Departamentais geralmente se concentrar em:

Desempenho de Contribuintes individuais

  • Quem está obtendo sucesso?
  • Qual é a percentagem da equipe que está tendo sucesso?
  • Por que as pessoas estão tendo sucesso?
  • Por que as pessoas estão falhando?
  • Podemos ajudar mais pessoas a ter sucesso?

Gestão, Liderança e Processo

  • O gerente é eficaz? A sua equipe está motivada?
  • As pessoas têm uma direção clara?
  • Os objetivos individuais e da equipe estão claros?
  • As pessoas estão obténdo feedback eficaz?
  • Existem processos bem definidos?

Recursos

  • O departamento tem recursos adequados para atingir os seus objetivos?

Impedimentos externos ou estruturais para o sucesso

  • Existe algo além do controle do departamento que está impedindo o seu sucesso?
  • Existem dependências de outros departamentos que não estão sendo cumpridas?
  • Existem tecnologias chave, externas, que não estão atuando como necessário?
  • Houve um evento sistêmico no mercado-alvo?

A gestão deve pelo menos se perguntar o seguinte ao analisar o desempenho de cada departamento:

  1. Quais são os objetivos do departamento?
  2. Como está o desempenho em relação às metas do departamento?
  3. Como sabemos que as metas são razoáveis? Fizemos referência contra as empresas de sucesso?
  4. Quais foram as causas, tanto positivas como negativas, para as variações das metas?
  5. O departamento dispõe de recursos suficientes?
  6. Existem questões de desempenho com contribuintes individuais? Porque as pessoas estão falhando?
  7. Há problema com a liderança no departamento?
  8. Os processos são adequados?
  9. Existem fatores externos ou estruturais que limitam o nosso desempenho? Quais são? Como eles podem ser superados?
  10.  Outras razões?
  11. Podemos desenvolver um plano de correção que permite que o departamento deficiente da empresa atinja os seus objetivos originais? Quando é que o plano deve ser feito? Quando é que podemos começar a implementá-lo?
  12. Se um departamento não consegue atingir os seus objetivos originais, que impacto isso tem sobre o desempenho dos outros departamentos e da empresa?

II. Modelo de Negócio e Estratégia

Questões chave a serem consideradas:

  1. Qual é a estratégia atual? Quais são os seus Fatores Chave do Sucesso (FCS)? Quais são as premissas por trás da estratégia atual?
  2. Quais são as métricas para a estratégia atual? Elas estão sendo alcançadas? Onde estão as variações positivas e negativas?
  3. O que está causando as variações da métrica?
  4. Podemos alcançar o plano de negócios da empresa com a estratégia atual? Por quê?
  5. Temos estratégias alternativas? Quais são? Quais são os fatores de sucesso (FCS) de cada uma?
  6. Qual é a “melhor” estratégia?
  7. Quais são as limitações de mudar a cada uma das estratégias alternativas?
  8. Qual estratégia é a extensão menos perturbadora para a estratégia atual?
  9. Qual estratégia é mais eficiente ao capital?
  10. Que estratégia tem a menor concorrência?
  11. Que estratégia tem o maior potencial de mercado?
  12. Qual estratégia é a mais fácil de financiar?
  13. Como a empresa mudará a estratégia – qual seria o plano de implementação para cada alternativa?
  14. Que vantagens a estratégia escolhida tem sobre as alternativas?
  15. Será que a nova estratégia permitirá à empresa atingir o seu plano de negócios de três anos? Por quê?

III. Mercado Alvo

Questões chave a serem consideradas:

  1. Qual é o mercado-alvo atual?
  2. Que aplicações / cargas de trabalho são apropriadas para o nosso produto em nosso mercado-alvo?
  3. É o potencial de receita de cargas de trabalho em nosso mercado-alvo grande o suficiente para sustentar o crescimento da receita necessária?
  4. As empresas em nosso mercado-alvo são potenciais clientes para o nosso produto? Por quê?
  5. Será que algum concorrente domina nosso mercado-alvo?
  6. Quais as vantagens que temos em nosso mercado-alvo?
  7. Que desvantagens que temos em nosso mercado-alvo?
  8. Que outros mercados são adequados para o nosso produto?
  9. Que aplicações / cargas de trabalho são apropriadas para o nosso produto em cada mercado alternativo?
  10. O potencial de receita de cargas de trabalho nesses outros mercados é suficientemente grandes para sustentar nosso crescimento de receita necessária?
  11. A receita potencial de uma combinação de cargas de trabalho em vários mercados é suficientemente grande para sustentar nosso crescimento de receita necessária?
  12. As empresas do mercado são potenciais clientes para o nosso produto? Por quê?
  13. Será que algum concorrente domina cada mercado?
  14. Quais as vantagens que temos em cada mercado?
  15. O que temos desvantagens em cada mercado?
  16. Em quais cargas de trabalho e mercados vamos focar durante os próximos 12 meses?
  17. Em que sequencia vamos focar essas cargas de trabalho e mercados?

IV. Produto

Questões chave a serem consideradas:

  1. O produto é verdadeiramente único ou inovador?
  2. O nosso produto é um produto “todo” para a carga de trabalho alvo em nosso mercado-alvo?
  3. O que é a proposição de valor para o nosso produto? Quais os benefícios que os clientes ganham?
  4. A versão atual do produto entrega a proposta de valor?
  5. Quem é a concorrência?
  6. Quais são as considerações mais importantes dos compradores ao decidir comprar nosso produto? Como à pontuação do nosso produto está em relação à concorrência, considerando tais decisões de compra?
  7. Como nosso produto se diferencia da concorrência? É significativo o suficiente?
  8. Podemos vender a versão atual do produto para um segmento “grande” do nosso mercado-alvo?
  9. Quais funcionalidades precisam ser adicionadas ao nosso produto? Quando é que esses recursos estarão disponíveis? Qual é o cronograma para o produto atual?
  10. O nosso calendário para o cronograma é realista e exequível?
  11. Será que o nosso cronograma permite vendas para capitalizar sobre o mercado atual (ou seja, estará disponível para testes por clientes potenciais dentro de seis meses)?
  12. Podemos fazer “parceria” com outras empresas para fornecer um produto “completo”? Quem? Como é que a parceria funcionaria? Nossos potenciais clientes aceitariam uma solução de múltiplos parceiros?

Considerações Finais

Este artigo é uma tradução levemente adaptada do texto de Kevin O’Keefe, “Conducting a Strategic Audit in a Startup Company” para Startups com produtos e serviços no mercado que estão com dificuldades de crescer ou gerar resultados financeiros coerentes como o planejamento realizado. Minhas perguntas aos colegas especialistas: Seria esta a abordagem mais apropriada para conduzir uma auditoria nesse tipo de organização? O que você mudaria? O que seria o ideal? Por que? Como fazer? Não seria melhor um acompanhamento contínuo da empresa por um especialista? Por favor, responda nos comentários.

Um abraço, @neigrando

Notas:

  • Para mais informações sobre fatores de sucesso (KFS), leia “Mind of the Strategist” por Kenichi Ohmae
  • Para saber mais sobre o “Produto como um todo” ler “Crossing the Chasm” por Jeffrey Moore.

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Miopia de Mentoria em Negócios

Introdução: Miopia de Marketing

Miopia em marketing é um termo usado em negócios, bem como o título de um importante artigo em marketing escrito por Theodore Levitt. O artigo dele foi publicado pela primeira vez em 1960 na Harvard Business Review, uma revista da qual ele era um editor. O artigo de Theodore Levitt, tornou-se um clássico e atemporal, porque faz uma crítica a época sobre a dicotomia entre fazer marketing centrado no cliente ou fazer marketing centrado no produto. Esta discussão começou na década de 1960 e ainda hoje é atual. E a história mostra, que as empresas que escolheram fazer do cliente [o mercado] o centro de suas estratégias teve, muito mais sucesso, porque o mercado é soberano. Quem estabelece uma “Persona” [representação fictícia do cliente ideal de um negócio] em diversos mercados, tipo, B2B, B2C, B2G etc., hoje em dia, alcança o sucesso, mais rápido, do que aquelas empresas centradas em produto e ou serviços. Em resumo, Miopia em Marketing se refere a “se concentrar nos produtos em vez dos clientes“.

Theodore Levitt lançou o conceito de miopia em marketing em seu livro “Marketing Myopia”, no qual relata a curta visão das empresas, ainda pertinente perante o mercado em que atuam.

Muitas vezes a visão de uma empresa não consegue definir um planejamento adequado ao mercado, não alcançando proveito positivo de retorno. Há casos em que a economia está em crise e o mercado está saturado, mas quando os fatores do ambiente externo são favoráveis e a empresa permanece em níveis estagnados, isso é um sinal de falha administrativa e curta visão no planejamento estratégico da empresa.

Levitt sinaliza o perigo que as empresas correm quando se voltam para o produto e mantem uma relação “romântica” com eles, ao invés de se orientarem para o mercado e para as necessidades de seus clientes.

Segundo Levitt, quando o crescimento das empresas é ameaçado, desacelerado ou estagnado, a culpa não é proveniente de uma possível saturação do mercado, mas sim em virtude de uma falha administrativa. Essa falha pode ocorrer por não conhecer de forma completa o seu negócio e não constatar que o seu foco deveria estar na satisfação das necessidades dos clientes, [que muda constantemente em função de diversos fatores, que inclui o comportamento do consumidor, tendências sociais, econômicas, políticas, tecnológicas entre outras].

Para Levitt, a orientação quando se volta [apenas] ao produto é a causa do declínio de muitas indústrias. Nesse segmento da economia, podemos verificar um padrão de comportamento, chamado por Levitt como “ciclo auto ilusório“, determinado por quatro condições:  

  1. A crença de que o crescimento é assegurado por uma população em expansão,
  2. A crença de que não existe um substituto competitivo para o principal produto da empresa,
  3. O excesso de fé na produção em massa e nas vantagens do rápido declínio do custo unitário com o aumento da produção e
  4. A preocupação com um produto voltado à experimentação científica controlada, ao aperfeiçoamento e à redução dos custos produtivos.

À medida que um setor da economia muda, há um maior leque de oportunidades. Nesse sentido, gestores são treinados para olhar além de suas atividades de negócios atuais e pensar “fora da caixa“. George Steiner, um admirador de Levitt diz “Se um fabricante de chicotes para carroças em 1910 tivesse definido o seu negócio como ´arranques automáticos para carruagens’, eles não poderiam ter sido capazes de dar o salto criativo necessário para mover para o ramo automobilístico quando a mudança tecnológica exigia“.

Profissionais que se concentram em estratégia de marketing, em várias técnicas de previsão e no valor do tempo de vida do cliente, podem superar a miopia de marketing até certo ponto. Isto pode implicar a utilização de metas de lucro em longo prazo (por vezes, com o risco de sacrificar objetivos de curto prazo).

Agora, a “nova miopia em marketing” ocorre quando os empreendedores e ou gestores não conseguem ver o contexto mais amplo de tomada de decisão de negócios, às vezes com resultados desastrosos para a sua organização e para a sociedade.

Geralmente tal miopia decorre de três fenômenos relacionados:

  • Um foco único no cliente para a exclusão de outras partes interessadas (colaboradores, fornecedores, parceiros e outros envolvidos) [, além é claro da concorrência direta e indireta, que inclui os disruptores que se utilizam das novas e emergentes tecnologias];
  • Uma definição demasiada estreita do cliente e suas necessidades;
  • Uma falha em reconhecer a contexto social alterada de negócio que impõe que sejam abordadas várias partes interessadas. [Cabe aqui um olhar para a economia criativa, economia colaborativa, economia compartilhada, economia multivalores, economia circular, economia digital, … e também ao que é importante para as novas gerações de consumidores e para o planeta terra – como as questões sociais e ambientais].

Alguns exemplos básicos para comparação de empresas Orientadas ao Marketing:

Em uma empresa de Telefonia, de: “Somos uma empresa Telefônica” para “Somos uma empresa de comunicações“; em uma ferroviária, de: “Somos uma empresa do ramo de ferrovias” -para “Somos uma empresa de transporte“; em uma empresa de petróleo, de: “Somos uma empresa do ramo de petróleo” para “somos uma empresa de energia“.

E como fica isso na mentoria de negócios

Na mentoria de negócios, tal miopia ocorre quando o empreendedor ou o gestor toma uma decisão de negócios, em que a própria decisão diz mais sobre quem é, ou seja, que vieses, experiências, conhecimentos, ferramentas, dados, intuição, reflexão que utilizou, do que a quem, a sua decisão vai impactar.

Empreendedores e ou gestores iniciantes ainda não têm [estrada] e não reconhecem este “mindset” como parte do processo de aprendizado, do desenvolvimento de sua singularidade [qualidade de ser distinto dos demais]. E este é o principal problema. No período socrático, um filósofo estudava o comportamento humano, que tinha, como prática de fazer perguntas em uma conversa dialógica, concebeu o método da maiêutica [caminhos que devem ser seguidos para descobrir o conhecimento], para levar o empreendedor a reflexões sobre o empreendimento ou negócio. Mas isto requer, que o(a) Mentor(a) em primeiro lugar, leve o empreendedor a abdicar de suas certezas, ou seja, da sua singularidade [novamente, quem ele é]. E digo mais, para o(a) mentor(a) a consciência da sua própria ignorância é o melhor caminho para uma boa conversa dialógica.

Para o(a) mentor(a) é um paradoxo, como esquecer e reaprender e ressignificar tudo que eu sei, sem impactar também a minha singularidade? Desconfio que somente a prática incessante e contínua da mentoria de negócios responderá a esta questão.

Mas afinal, o que é mentoria no mundo dos negócios?

A mentoria de negócios tem origem no manifesto de mentor escrito por David Cohen e Brad Feld, fundadores da TechStars em 2011. São 18 axiomas, todos muito importantes dentro de um processo de mentoria, mas identifico o primeiro axioma como sendo o mais importante de todos, a saber, seja socrático. A metodologia empregada pelo(a) mentor(a) de negócios entrega valor com o uso da maiêutica [caminhos que devem ser seguidos para descobrir o conhecimento], em uma conversa dialógica, deve levar o(a) empreendedor(a) a reflexões e pensamentos sobre o estágio atual e futuro de seu negócio.

Atualmente, participamos de uma associação de mentores, entre muitas que há no mercado, que proclama em seu blog, que a mentoria de negócios é em síntese um processo composto por Mentores que devem ter o seguinte perfil;

  1. O mentor de negócios deve ter conhecimentos em negócios, nas suas mais variadas fases [ideação, validação, tração e maturidade], em seus mais variados segmentos [indústria, comércio, varejo etc.] e em seus mais variados tamanhos e nichos [Startups em seus diversos estágios, micro, pequena, média e grande empresa].
  2. O mentor de negócios tem forte networking, para ajudar ao Empreendedor com conexões de valor que o auxiliem a alavancar o negócio.
  3. E por último, mas não menos importante, um método para condução da sessão de mentoria. Uma sessão que usa e aplica uma metodologia, no caso, a socrática.

Enfatizando o contexto atual

Mais do que nunca os empreendedores e ou gestores estão vivendo uma realidade acelerada, complexa, ambígua e cheia das incertezas, com desafios muito maiores do que os do século passado, onde a pandemia e as mudanças e exigências que vem a partir dela fazem parte disso.

E o que tem isso a ver com Mentoria no mundo dos negócios

E o que tais empreendedores(as) e ou gestores(as) mais necessitam?

Precisam ampliar a visão, com habilidades que os tornem capazes de enxergar além do caos; Entendimento das capacidades estratégicas da organização; flexibilidade em relação as mudanças, adaptando-se ao contexto, ambiente e realidades do mercado; coragem ao enfrentar desafios e tomar decisões.

No processo de mentoria, já vimos que é a arte de fazer perguntas, através do uso da maiêutica [caminhos que devem ser seguidos para descobrir o conhecimento], é fundamental, e como toda arte só se atinge a excelência através da prática. Perguntas matadoras que levem a reflexão sobre os cursos de ação [identificação de lacunas na construção do negócio] não são perguntas fáceis de fazer, uma paráfrase [é uma síntese do que foi dito com outras palavras sem mudar a ideia central], ou cursos de ação como paradigmas [modelo a ser seguido] ou até mesmo o uso de metáforas [figura de linguagem em que há uma transferência do significado de uma palavra para outra] agregam valor no processo de mentoria. Porém, antes de tudo, mentor(a) e mentorado(a) devem procurar a empatia [capacidade de se identificar com outra pessoa], que é uma técnica de se colocar no lugar do outro, entender o propósito e motivação que levou o empreendedor a conceber o empreendimento. E nesse sentido o conhecimento de modelos de negócio e a prática de modelagem de negócios ajuda em muito a elaborar tais questões, assim como uma visão 360º do negócio do mentorado(a).

Uma outra técnica chamada rapport, [criar uma relação], palavra de origem francesa que resume e dá significado da importância de se entender o empreendedor. Um rapport, bem-feito leva o(a) mentor(a) a entender o propósito do negócio. Outro ponto importante é a escuta ativa, que é a plena dedicação para ouvir e compreender o que o outro tem a dizer, dar ao empreendedor o entendimento de que o(a) mentor(a) está realmente escutando o que ele está dizendo, através não das respostas, mas da próxima pergunta que irá levar o empreendedor a refletir e pensar, sobre seu negócio, poxa não pensei nisto, não desta maneira ou isto é novidade para mim, como casos práticos de escuta ativa. Perguntar e escutar, entender quem é o empreendedor, que conhecimentos possui, que experiências já teve, se é o seu primeiro negócio ou se é um empreendedor serial, alinhar propósitos e visão faz toda a diferença para uma boa sessão de mentoria.

E onde entram os mentores(as) de negócio nisso tudo.

Aqui cabe entender que assim como não é possível inovar sem criatividade, não é possível criar sem conhecimento, isso ocorre a quem pretende orientar empreendedores e gestores no meio de tanto caos. Não basta só experiência, pois os desafios são novos, não basta só maturidade, pois os desafios são muitos. É preciso preparo, estando atendo, vendo, ouvindo e acompanhando tudo isso e as tendências de comportamento, consumo e tecnologia, utilizando de métodos apropriados, rede qualificada de contatos e parceiros(as) e participando de treinamentos que possam enriquecer seus métodos, conhecimentos e seu networking.

E ainda um outro aspecto, em relação ao conhecimento, respeitando a singularidade do empreendedor(a), é identificar na sessão de mentoria o quanto o empreendedor traz na bagagem profissional usada com arcabouço do negócio. Planejamento, Estratégia do negócio, Modelos de inovação, Modelos de negócios, Comunicação e Venda da ideia, quais são as dificuldades enfrentadas, qual é a dor principal que nenhum analgésico controla, enfim quais são as dificuldades que martirizam o empreendedor(a) é fundamental para a mentoria de negócio entregar valor para o mercado.

Aqui vejo um problema cultural da nossa sociedade, que é relacional [relação entre pessoas]. Um amigo meu, americano uma vez me disse que ele ficou assustado com o viés relacional da nossa cultura porque segundo ele quando um americano, pela manhã, ao acordar, pensa no seu negócio, o empreendedor(a) pensa em o que ele pode melhorar, como por exemplo, a logística, o controle de estoque, como ser mais eficiente em seu negócio, em estratégia etc. E o Brasileiro, o que faz? Pensa em “com quem ele pode falar” para desenvolver o seu negócio. Esta é uma diferença marcante entre as culturas Americana e Brasileira.

Enfim, não faz sentido querer prover mentoria, consultoria ou treinamento de negócios sem o devido conhecimento mínimo do que significa negócios neste novo mundo, nessa nova economia.

Como mentor estou sempre à procura do aprendizado, e isso já diz muito sobre o meu perfil, como construo a minha singularidade, porém, o caminho do sucesso em mentoria de negócios é entender que somos eternos aprendizes!!!  A busca pelo aprendizado deve ser inalcançável.

Da mesma forma, a busca do conhecimento também o é. Para finalizar uma parábola em que o sucesso e conhecimento do mentorado são colocados a prova:

Um mentor reuniu um grupo grande de empreendedores em um auditório. Deu um balão para cada empreendedor(a), que teve que inflar o balão, escrever o seu nome nele e jogar no auditório. Os balões se misturaram uns aos outros. Os mentores receberam 5 minutos para encontrar o seu próprio balão. Apesar de toda a agitação, ninguém encontrou o seu balão. Naquele momento, o mentor disse aos empreendedores para pegar o primeiro balão que encontrassem e entregasse para a pessoa cujo nome estava escrito nele. Em 5 minutos, cada um tinha o seu próprio balão. O mentor(a) disse, então, aos empreendedores: Esses balões são como a felicidade e o sucesso. Nunca a encontraremos se todo mundo estiver procurando somente a seu balão. Mas se nos preocuparmos com o sucesso do próximo……, também encontraremos a nossa. Dependemos do coletivo para encontrar os caminhos da sucesso, felicidade e do conhecimento.

Com toda a consideração e apreço, deixamos o texto introdutório acima, sobre “Miopia de Marketing” para reflexão em todo tipo de negócios, pois entender quem realmente é o cliente e o mercado é essencial.

Por: Nei Grando, mestre em ciências pela FEA-USP, empreendedor, mentor, consultor, estrategista de negócios e especialista em inovação, modelos de negócios e plataformas de negócio; e Paulo Del Peloso Carneiro, mestre em administração de empresas pelo IBMEC – RJ, veterano na vida e nos negócios, mentor e participante ativo para a excelência do ecossistema de negócios.

Um abraço a todos e boas reflexões.

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