Decisão e processo decisório

“A verdadeira tomada de decisão não ocorre quando se sabe exatamente o que fazer, mas quando não se sabe o que fazer, ou seja, quando é necessário balancear valores conflitantes, classifica-los em situações complexas e lidar com incertezas.” – McNamee, & Celona

Nossas decisões moldam nossas vidas. Feitas consciente ou inconscientemente, com boas ou más consequências, elas representam a ferramenta fundamental que usamos para enfrentar as oportunidades, os desafios e as incertezas da vida. Assim, tomar boas decisões é um dos mais importantes determinantes de quão bem atende-se às responsabilidades e alcança-se objetivos pessoais e profissionais. Porém, a necessidade de tomar uma decisão difícil nos coloca em risco de ansiedade, confusão, dúvida, erro, embaraço ou perda. O nosso desconforto muitas vezes nos leva a tomar decisões muito rapidamente ou muito lentamente, ou de forma muito arbitrária. Assim, a única maneira de realmente aumentar as chances de tomar uma boa decisão é aprender a usar um bom processo de tomada de decisão – que conduza a melhor solução com um mínimo de perda de confiança, energia, dinheiro e compostura.

Mintzberg define o termo decisão como um compromisso específico para a ação, geralmente um comprometimento de recursos, e define um processo de decisão como “um conjunto de ações e fatores dinâmicos que começa com a identificação de um estímulo para a ação e termina com o compromisso específico de ação”.

Hammond, Keeney e Raiffa dizem que mesmo as decisões mais complicadas podem ser analisadas e resolvidas levando-se em consideração um conjunto de oito elementos, sendo que, os cinco primeiros – problema, objetivos, alternativas, consequências e conflitos (tradeoffs) – constituem o núcleo central e podem ser aplicados a praticamente todas as decisões, e os três elementos restantes – incerteza, tolerância a riscos e decisões interligadas – ajudam a tornar mais claras as decisões em situações instáveis ou em andamento, sendo que algumas decisões nem envolvem esses últimos elementos, porém muitas das mais importantes os utilizam.

McNamee e Celona, explicam que bons resultados são o que nós desejamos, enquanto que boas decisões são o que podemos fazer para maximizar a probabilidade de ter bons resultados.

A qualidade de uma decisão pode ser avaliada através da análise da decisão, que começa definindo uma decisão pelo empenho de recursos que são revogáveis apenas com algum custo. Em seguida, essa análise, estabelece claramente quatro elementos para tomada de uma decisão racional:

  1. informação, ou “O que eu sei sobre o mundo e a oportunidade de negócios ou pessoal sob consideração?”, onde um componente importante deste conhecimento é uma avaliação da incerteza (ou de “O que eu não sei?”);
  2. alternativas, ou “Quais são os cursos de ação possíveis?”;
  3. valores, ou “O que eu quero?”;
  4. lógica, ou “Como faço para colocar o conhecimento, alternativas e valores juntos para chegar a uma decisão?”.

Isso explica uma boa decisão como sendo aquela logicamente consistente com informações, alternativas e valores trazidos ao problema.

Quanto ao processo decisório, diversos autores da literatura apresentam passos a serem seguidos pelo decisor. O Quadro abaixo apresenta as propostas de processo decisório de Bazerman e Moore com seis passos, e de Hammond, Keeney e Raiffa com oito passos.

Bazerman e Moore Hammond, Keeney e Raiffa
  1. Definir o problema;
  2. Identificar os critérios;
  3. Ponderar os critérios;
  4. Gerar alternativas;
  5. Classificar alternativas segundo cada critério; e
  6. Identificar a solução ideal.
  1. Definir o problema certo;
  2. Especificar os objetivos;
  3. Criar alternativas imaginativas;
  4. Entender as consequências;
  5. Confrontar os itens de negociação (lidando com os conflitos [trade-offs]);
  6. Esclarecer as incertezas;
  7. Pensar muito sobre a tolerância ao risco;
  8. Considerar decisões interligadas.

O processo de Hammond, Keeney e Raiffa começa estruturando o problema de decisão, que inclui a definição do problema que está sendo enfrentado e a geração de um conjunto de objetivos e alternativas adequados ao problema. Depois especifica as consequências das alternativas ao descrever quão bem cada uma das alternativas é medida em termos do conjunto de objetivos. A seguir, avalia cada uma das várias consequências para indicar qual é a melhor do que as outras e o quanto melhor é. Por fim, integra as informações para avaliar logicamente as alternativas.

Processo Decisório simples

Quando não há incerteza, as consequências podem ser descritas diretamente ao considerar as implicações das diferentes alternativas. Porém, em caso de dúvida, elas precisam ser quantificadas utilizando-se probabilidades. As consequências para cada alternativa são descritas juntamente com as possíveis resoluções das incertezas que afetam a alternativa. Nas decisões que envolvem múltiplos objetivos, avalia-se os possíveis conflitos de valor (tradeoffs). Para as incertezas, a tolerância ao risco deve atribuir pontuações relacionadas com cada consequência. Decisões interligadas são casos que ocorrem quando decisões tomadas no momento presente afetam decisões futuras ou objetivos futuros influenciam decisões atuais.

“Incerteza  é a consequência de nosso incompleto conhecimento sobre o mundo. Entretanto, em muitos casos importantes, a informação completa simplesmente não está disponível ou é muito cara para se obter (em tempo, dinheiro, ou outros recursos).”  – McNamee, & Celona

Enfim, se considerarmos a importância que as decisões a serem tomadas têm em nossas vidas e negócios, provavelmente será bastante útil aprendermos um pouco mais sobre este assunto.

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Sobre o autor:

Nei Grando é diretor executivo da STRATEGIUS, teve duas empresas de tecnologia, é mestre em ciências pela FEA-USP com MBA pela FGV, organizador e autor do livro Empreendedorismo Inovador, é mentor de startups e atua como consultor, professor e palestrante sobre estratégia e novos modelos de negócio, inovação, organizações exponenciais, transformação digital e agilidade organizacional.

Detalhes: aqui, Contato: aqui.

Artigos acadêmicos de referência:

Bazerman, M. H., & Moore, D. A. (2008). Judgment in managerial decision making. John Wiley & Sons, Inc. [ vide em português o livro: Processo Decisório ]

Hammond, J. S., Keeney, R. L., & Raiffa, H. (1999). Smart Choices: A Practical Guide to Making Better Life Decisions. Harvard Business Review Press. [ vide em português o livro: Decisões Inteligentes ]

McNamee, P., & Celona, J. (2007). Decision analysis for the professional. 4th Edition, SmartOrg, Incorporated.

Mintzberg, H., Raisinghani, D., & Theoret, A. (1976). The structure of” unstructured” decision processes. Administrative science quarterly, 246-275.

Outros artigos relacionados:

As Expectativas Tecnológicas das Startups e os Ciclos de Hype do Gartner

 “Hype é a promoção extrema de uma pessoa, ideia, produto. É o assunto que está “dando o que falar” ou algo sobre o qual todos falam e comentam. A palavra deriva de hipérbole, figura de linguagem que representa o exagero de algo ou uma estratégia para enfatizar alguma coisa.” – Wikipedia

Novas tecnologias são muito comentadas pela mídia, pela academia e pelas organizações. Mas cada uma destas tecnologias tem um ciclo de vida que deve ser considerado pelas empresas que pretendem investir tempo e recursos na busca pela inovação e vantagem competitiva. Quando elas fazem promessas ousadas, como você discerne o hype do que é comercialmente viável? E quando será que tais “oportunidades” gerarão resultados?

Você não vai querer fazer a aposta errada, vai?

Um Ciclo de Hype do Gartner fornece uma representação gráfica da maturidade e adoção de tecnologias e aplicações, e a potencial relevância delas para resolver problemas reais de negócios e explorar novas oportunidades.

A figura abaixo apresenta o posicionamento das tecnologias emergentes de 2022 num Ciclo de Hype do Gartner.

A seguir é fornecida uma explicação para facilitar a interpretação de tal Ciclo de Hype.

Interpretando o Hype tecnológico

Tal metodologia oferece uma visão de como uma tecnologia ou aplicativo evoluirá ao longo do tempo, fornecendo uma fonte sólida de insight para gerenciar sua implantação dentro do contexto de seus objetivos de negócios.

Ciclo de Hype do Gartner

E conforme pode ser visto na figura, um Ciclo de Hype apresenta cinco fases-chave do ciclo de vida em que uma tecnologia pode estar, descritas a seguir:

1 – Gatilho Tecnológico: As primeiras histórias de prova de conceito e o interesse dos meios de comunicação desencadeiam uma publicidade significativa a respeito de uma nova tecnologia. Nesta fase, muitas vezes não existem produtos utilizáveis ​​e a viabilidade comercial não está comprovada.

2 – Pico de Expectativas Infladas: A publicidade precoce produz uma série de histórias de sucesso – muitas vezes acompanhado por dezenas de falhas. Algumas empresas tomam medidas; muitas não.

3 – Vale da Desilusão: O interesse diminui quando experiências e implementações não conseguem entregar. Os produtores da tecnologia sofrem abalos ou falham. Nesta fase, os investimentos continuam somente se os fornecedores sobreviventes melhorarem seus produtos para a satisfação dos primeiros usuários.

4 – Ladeira do Encantamento: Mais exemplos de como a tecnologia pode beneficiar a empresa começa a torná-la mais clara e compreendida. Produtos de segunda e terceira geração aparecem de fornecedores de tecnologia. Nesta fase, mais empresas financiam pilotos e as empresas conservadoras continuam cautelosas.

5 – Planalto de Produtividade: A adoção mainstream (da maioria das empresas) começa a decolar. Nesta fase, os critérios para avaliar a viabilidade do fornecedor estão mais claramente definidos, e a ampla aplicabilidade e relevância da tecnologia no mercado está gerando resultados.

Assim, você pode usar este recurso para entender a promessa de uma tecnologia emergente conforme o contexto do setor da empresa e seu apetite individual por risco. E você pode escolher:

  • um movimento precoce – você pode colher os frutos da adoção antecipada se estiver disposto a combinar a tomada de risco com a compreensão de que os investimentos arriscados nem sempre valem a pena;
  • uma abordagem moderada – os executivos mais moderados entendem o argumento para um investimento antecipado, mas também insistem em uma análise de custo / benefício sólida quando novas formas de fazer as coisas ainda não estão totalmente comprovadas;
  • esperar mais maturação – se houver muitas perguntas não respondidas em torno da viabilidade comercial de uma tecnologia emergente, pode ser melhor esperar até que outros tenham sido capazes de entregar valor tangível.

Hyper-Cycle-info

Concluindo

Ao “ouvir” o hype de qualquer tecnologia emergente, antes de adotá-la para o uso em projetos inovadores de sua empresa, é importante buscar entender em qual fase do ciclo de vida esta tecnologia se encontra. Ao buscar adquirir conhecimento sobre ela, observar não só os pontos fortes e as vantagens, mas também os pontos fracos e desvantagens – procurando visualizar não só as oportunidades de sair na frente, mas também calcular os custos e os riscos envolvidos na tomada de decisão.

Vale lembrar que, não são as novas tecnologias que mudam os mercados, mas sim os novos modelos de negócios. A tecnologia é apenas a ferramenta de apoio, facilitadora da implementação do novo modelo de negócio, novo produto ou novo processo. Ou seja, a tecnologia não serve para resolver problemas, mas sim para implementar soluções.

Sobre mim: aqui, Contato: aqui.

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Referências:

Outros artigos sobre Startups:

Posicionamentos em anos anteriores

Posicionamento das tecnologias emergentes de 2020.

Posicionamento das tecnologias emergentes de 2019.

CTMKT_741609_CTMKT_for_Emerging_Tech_Hype_Cycle_LargerText-1

Posicionamento das tecnologias emergentes de 2018. 

Gartner Hype Cycle for Emerging Technologies - 2018