Muito tem se falado sobre a importância de propósitos simples, claros e objetivos às organizações para gerarem engajamento junto a seus líderes e demais colaboradores.
Porém, é um equívoco comum, tanto nas empresas quanto nos artigos e livros de administração, que um senso de propósito é o que mais importa quando se trata de envolver os funcionários.
Uma pesquisa do artigo referência da revista MITSloan Management Review, revelou que o propósito é apenas um fator que contribui; e que o nível e a qualidade da colaboração interpessoal realmente têm o maior impacto no envolvimento e senso consistente e claro de comprometimento dos funcionários.
De que adianta um propósito maravilhoso se o ambiente de trabalho estiver cheio de medo, a moral da força de trabalho baixo e a rotatividade de funcionários era alta. Melhor não seria um espírito palpável de camaradagem, funcionários enérgicos e entusiasmados e clientes muito satisfeitos com o serviço.
Bons programas de desenvolvimento de liderança são projetados para ajudar a promover a construção de conexões e a criar redes de relacionamento em toda a empresa – promovendo um ambiente de confiança, mais colaborativo e produtivo.
Uma Análise de Rede Organizacional pode identificar uma variedade de construtores de colaboração, incluindo conectores, que vinculam pessoas; especialistas, cujos conhecimentos e habilidades apoiam outros; corretores, que ultrapassam fronteiras e integram subculturas; e energizadores, que incutem paixão e entusiasmo nos outros. Também pode identificar destruidores de colaboração: desenergizadores, vendedores de medo e outros duendes que espalham cinismo e impulso lento, geralmente de maneiras sutis.
Três etapas para a colaboração produtiva
Quando a confiança cultiva o propósito e o objetivo gera energia, as pessoas têm maior probabilidade de se tornarem colaboradores produtivos e engajados.
Como estabelecer e cultivar altos níveis de colaboração e engajamento na empresa?
Trata-se de um processo em camadas:
- Primeiro, é preciso estabelecer uma base sólida identificando, adotando e recompensando comportamentos de liderança que aumentam a segurança e a confiança psicológicas. Essa é uma condição necessária, mas não suficiente.
- Depois que a confiança é estabelecida, o líder deve instilar um senso de propósito – a convicção de que o trabalho que está sendo feito tem significado e impacto.
- E, uma vez que o propósito está estabelecido, o líder deve gerar energia – um entusiasmo diário da força de trabalho.
Ainda existe muita desconfiança em muitas organizações, incluindo reclamações sobre líderes que não cumprem promessas, retêm informações e se comportam de maneira egoísta. Tais reclamações nem sempre são fundamentadas na realidade, mas a maioria dos funcionários não confronta diretamente os líderes nem pede esclarecimentos sobre suas intenções.
Vários comportamentos de liderança estabelecem e apoiam a confiança. Vide na tabela abaixo, os 27 comportamentos de liderança que nutrem a colaboração, promovendo confiança, propósito e energia nas organizações. Por exemplo, embora os líderes geralmente sejam aconselhados a “conversar”, quando se trata de confiança, eles também devem “falar em pé”. Isso porque nutrir a confiança baseada na benevolência e na integridade requer comunicar quem eles são e a intenção de suas ações de maneira clara e inequívoca. Quando os líderes andam sem falar, eles deixam os funcionários adivinhando e, em situações de trabalho, essas suposições costumam ter um tom negativo.
Comportamentos de lideres que nutrem a colaboração
Usando a análise de rede organizacional (ONA) para identificar líderes que são bons em nutrir a colaboração e entrevistando eles e as pessoas com quem trabalham, os pesquisadores descobriram 27 comportamentos que constroem confiança, instilam propósitos e geram energia, como segue:
A confiança baseada na competência também pode ser problemática se os líderes não estiverem dispostos a admitir que não sabem tudo. Isso requer certa humildade e uma exposição que gera vulnerabilidade, mas faz muita diferença nas relações de trabalho.
Os líderes de confiança passam bastante tempo em reuniões individuais com os funcionários e dedicam parte do tempo dessas reuniões a tópicos de “fora da tarefa” que não têm nada a ver com cronogramas de trabalho ou entregas. Assim, quando sabem com o que as pessoas se importam e para onde querem ir, eventualmente podem moldar o trabalho para alinhar com as aspirações, e quando os liderados veem tal atitude, aumentam o grau de confiança.
Ao conquistar um senso de confiança nas pessoas, é muito mais fácil para os líderes ampliar a abertura e mostrar-lhes como o trabalho que fazem é importante para a organização e o mundo externo. Os líderes realizam isso não apenas fornecendo às pessoas tarefas inerentemente significativas (o que nem sempre é possível), mas também criando um contexto para uma colaboração significativa. E promover propósito, significa destacar o “porquê” de uma missão ou projeto, fornecendo mais clareza sobre as tarefas e não só “o que” precisa ser feito.
Outro ponto é que mais da metade do senso de propósito e impacto dos funcionários vem da qualidade de suas colaborações interpessoais. Assim, os líderes devem ajudar os funcionários a ver o objetivo como incorporado à maneira como trabalham juntos, não apenas na execução do trabalho em si.
Líderes que instilam com sucesso um senso de propósito tendem a difundir a propriedade desde o início, tornando a busca e o alcance de objetivos compartilhados um empreendimento cooperativo desde o início. Além disso, mostram apreço pelo trabalho de outras pessoas – demonstrando reconhecimento, quando bem feitos.
Os líderes que podem gerar energia e entusiasmo, um talento relativamente raro no ambiente de trabalho, são extremamente valiosos para suas organizações. Eles fornecem o choque necessário para produzir rapidamente novos resultados e acelerar a transferência de conhecimento. Isso os torna agentes de mudança altamente eficazes. Mas esse choque só pode ser feito de maneira estratégica se as organizações reconhecerem seus energizadores e empregarem suas habilidades especiais.
Tais lideres dedicam tempo para conversar com os colegas e ajudá-los a resolver problemas. Além disso usam de humor, pois a ideia é fazer as pessoas rirem e relaxarem um pouco – e não se levarem muito a sério.
Enfim, só um propósito nobre não transformará a empresa, são necessários comportamentos de liderança que nutrem a colaboração interpessoal como os verdadeiros motores da mudança.
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Referência
Cross, Rob; Edmondson, Amy; Murphy, Wendy. A Noble Purpose Alone Won’t Transform Your Company. MITSloan Management Review (2019).
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