inovação
Meta-framework de Representações e Abordagens Gerenciais
Introdução
Considero o conteúdo que segue extremamente relevante não só para acadêmicos, mas para líderes e gestores em geral. Procurei manter o texto original, que faz parte de minha dissertação de mestrado, em uma linguagem acadêmica levemente ajustada, mesmo considerando que este é um blog de negócios. Espero que seja útil a você, tanto quanto foi para mim.
Sobre o Meta-framework
De uma forma mais abrangente, Brady et al. (1997) definem uma ferramenta de gestão como “um documento, estrutura, processo, sistema ou método que permite que uma empresa alcance ou esclareça um objetivo“. Rigby (2001) afirma que o termo “ferramenta de gestão” pode significar muitas coisas, mas muitas vezes envolve um conjunto de conceitos, processos, exercícios e frameworks analíticos.
Phaal, Farrukh e Probert (2006a) comentam que as definições de Brady et al. (1997) e Rigby (2001) não distinguem uma série de termos relacionados que são usados de várias maneiras por diferentes gerentes, autores e praticantes, com pouco rigor ou consistência. Explicam que para esclarecer esta situação, Shehabuddeen, Probert, Phaal e Platts (2000) propuseram um meta-framework, melhorado por Phaal, Farrukh e Probert (2001) e Phaal et al. (2006a), conforme a figura abaixo, que estrutura um número de termos relacionados com representações e abordagens gerenciais, as quais coletivamente podem ser chamadas por “métodos”, de acordo com duas dimensões-chave: aplicada-conceitual e estática-dinâmica, definidas do seguinte modo:
- Conceitual: com foco na abstração ou compreensão de uma situação (modelos cognitivos);
- Aplicada: com foco em ações concretas em um ambiente prático (mundo real);
- Estática: com foco na estrutura e a posição dos elementos dentro de um sistema;
- Dinâmica: com foco na causalidade e a interação entre os elementos de um sistema.
As relações entre os vários termos que se referem à representações e abordagens de gestão estão implícitas pela estrutura mostrada na figura, onde são adotadas as definições das tabelas que seguem, embora seja reconhecido que muitas combinam elementos de mais de uma destas mencionadas (Phaal et al., 2006a).
A natureza inter-relacionada dos conceitos definidos aqui significa que as ferramentas têm de ser consideradas no contexto da técnica, procedimento e processo dentro do qual elas são aplicadas, em conjunto com a base conceitual em que estão fundamentadas. Ou seja, modelos, mapas e quadros em conjunto com sistema e paradigma.
Assim, com base em Phaal et al. (2006a) e Shehabuddeen et al. (2000), podemos dizer que uma ferramenta permite a aplicação prática de uma técnica, que uma técnica é uma forma de realizar um procedimento, que um procedimento contém os passos para execução de um processo, e que métodos são representações e abordagens gerenciais que utilizam técnicas e ferramentas para atingir seus objetivos.
Representações relacionadas com a conceitualização das questões de gestão
| Representação conceitual | Descrição |
| Paradigma | Um paradigma descreve as premissas e convenções estabelecidas que sustentam uma perspectiva particular sobre uma questão de gestão. |
| Sistema | Um sistema define um conjunto de elementos inter-relacionados delimitados e os representa no contexto de um paradigma. |
| Framework | Um framework suporta o entendimento e a comunicação da estrutura e do relacionamento num sistema para uma finalidade definida. |
| Mapa | Um mapa suporta a compreensão da relação estática entre elementos de um sistema; |
| Modelo | Um modelo suporta compreensão da interação dinâmica entre os elementos de um sistema (causa e efeito; fluxos de informação). |
Abordagens para resolução prática de problemas no contexto de gestão
| Abordagem prática | Descrição |
| Processo | Um processo é uma abordagem para a realização de um objetivo de gestão, através da transformação de entradas em saídas. |
| Procedimento | Um procedimento é uma série de passos de um processo de operacionalização. |
| Técnica | Uma técnica é uma forma estruturada de completar parte de um procedimento. |
| Ferramenta | Uma ferramenta facilita a aplicação prática de uma técnica. |
Enfim, não sei se tudo ficou suficientemente claro, pois será necessário algum aprofundamento e exemplos para isso, mas os convido a conhecer um pouco mais sobre Métodos, Técnicas e Ferramentas para Inovação (MTFIs) na referência que segue.
Referência
GRANDO, N. Métodos, Técnicas e Ferramentas para Inovação: Conhecimento, Uso e Eficácia em Empresas Brasileiras. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 44,45. 2017.
A dissertação completa está em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-01122017-155036/pt-br.php
Sobre o Autor
Nei Grando é diretor da STRATEGIUS, mentor, consultor, professor e palestrante sobre estratégia. inovação e transformação digital. Teve duas empresas de TI (plataformas de negócios, portais e serviços). É mestre em Ciências pela FEA-USP (inovação) com MBA pela FGV, organizador e autor do livro “Empreendedorismo Inovador: Como criar Startups de Tecnologia no Brasil”, e autor em outros dois. Vide CV profissional no LinkedIn – e acadêmico no CNPq Lattes.
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Quantas características de DNA digital sua empresa possui?
Introdução
Dada a frequência com que as palavras “digital” e “transformação” aparecem lado a lado, é fácil ignorar a distância real entre elas. Afinal, a tecnologia digital – compreendê-la, bem como implementá-la – representa apenas um dos muitos desafios que as organizações precisam vencer para orquestrar uma transformação completa. E alcançar uma transformação digital transcende a qualquer implementação de tecnologia única, seja inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT) ou realidade virtual (VR).
À medida que mais empresas embarcam na jornada em direção à transformação digital, no entanto, nem todas viajam no mesmo ritmo. Até que ponto uma organização pode tecer seu insight sobre os recursos digitais em toda a sua cultura – incorporando-o a todas as funções e atividades – é uma medida de sua maturidade digital? E as empresas mais maduras digitalmente são aquelas que possuem um conjunto comum de características que determinam como elas se organizam, operam e se comportam. Apesar dos erros inevitáveis, as organizações digitalmente maduras continuam focadas em desenvolver habilidades mais ágeis e de polimento, como inovação contínua e colaboração intencional.
Esse “DNA” de negócios digitalmente maduros consiste, na verdade, em 23 traços, identificados pela Deloitte Consulting LLP ao longo de três anos. Paralelamente, a Deloitte colaborou com o MIT Sloan Management Review em um projeto de pesquisa de quatro anos, 1 que atraiu mais de 16.000 entrevistados de 157 países e 28 setores e forma a base de um novo livro, The Technology Fallacy: How People are the Real Key to Digital Transformation (MIT Press, abril de 2019). No livro, os autores vinculam o trabalho da Deloitte sobre DNA digital aos resultados de suas pesquisas para fornecer uma estrutura para isolar e priorizar os traços digitais mais críticos, mapeando uma série de mudanças incrementais destinadas a infundir o DNA existente com o tipo digital.
Para executivos de finanças que entendem o potencial da tecnologia digital, enumerar essas características pode ajudar a superar desafios enquanto eles se esforçam para articular objetivos e alinhar o financiamento necessário para a transformação digital.
Mais digital a cada dia
Na pesquisa MIT / SMR da Deloitte, 85% dos entrevistados concordaram que a transformação digital é essencial para o sucesso dos negócios. Por mais ampla e atraente que seja a visão de uma organização, no entanto, atingir um alto nível de maturidade digital significa se comprometer com uma escalada diária implacável, fazendo investimentos em infraestrutura e habilidades que podem testar a disposição e capacidade de uma empresa.
As empresas inevitavelmente se depararão com uma série de obstáculos, incluindo processos de governança onerosos, práticas desatualizadas e líderes que podem ser excessivamente apegados ao status quo. Entre os participantes da pesquisa, 50% relataram que as práticas comerciais tradicionais interferem na capacidade de se envolver com sucesso nos negócios digitais.
Esses obstáculos servem apenas para fazer um caso mais forte para imbuir uma empresa com DNA digital. Para isso, no entanto, são necessários executivos vigilantes, capazes de fazer um caso forte e garantir que a empresa esteja investindo em recursos que reforcem sua visão digital. Eles também têm a responsabilidade de alinhar elementos da cultura da empresa – incentivos, treinamento e práticas de contratação – com sua encarnação digital emergente. Uma cultura organizacional alimentada por DNA digital apoia os funcionários ansiosos por experimentar tecnologias digitais para criar formas inovadoras de criar valor.
Para que o DNA digital floresça, também cabe a esses líderes identificar aspectos amplos da cultura da organização que precisam ser melhor adaptados ao mundo digital. Então, fazendo mudanças minimamente viáveis - grandes o suficiente para injetar algum DNA digital, mas pequenas o suficiente para minimizar a resistência e rejeição – as empresas podem reconstruir práticas e mentalidades, transformando corações e mentes.
Muitas empresas têm muito o que crescer, devido às características digitais que muitas ainda precisam exibir. Dois terços dos entrevistados disseram estar insatisfeitos com o grau em que sua organização apoia o desenvolvimento contínuo de habilidades digitais. Além disso, 78 por cento das empresas em estágio inicial não estão empurrando a autoridade de tomada de decisão necessária para os níveis mais baixos da organização. E, no geral, os entrevistados relataram que o maior desafio que afeta a capacidade de sua empresa de competir em um ambiente digital é a falta de experimentação.
Para ajudar a elevar seu nível de maturidade digital, os líderes devem aplicar três critérios:
- Identifique uma ambição digital que seja significativa, rápida e mensurável de alcançar.
- Junte-se a um líder patrocinador que esteja aberto a novas abordagens e ansioso para participar.
- Forme equipes por membros que sejam muito capazes e igualmente entusiasmados para aprender.
Ainda assim, não importa onde uma empresa comece seus esforços, é importante não se tornar muito fixada na tecnologia em si, seja ela mobile, cloud-computing, deep learning ou blockchain. O objetivo não é se tornar mais digital, é melhorar o desempenho usando meios digitais.
Traços do DNA digital
Os 23 traços associados ao DNA digital não devem ser consumidos de uma só vez. Não é apenas impraticável – diferentes partes da empresa provavelmente alcançaram diferentes níveis de maturidade digital. Algumas das funções ou unidades mais maduras digitalmente podem servir como modelos para o resto da organização.
Para começar, as organizações devem se concentrar em três a cinco características da lista completa abaixo que podem ter o maior impacto nos próximos 12 a 18 meses. Considere quais características, se inseridas em seu DNA organizacional, poderiam gerar mais valor nesse período. Lembre-se, entretanto, de que a jornada provavelmente significará refazer ou substituir sistemas legados, estruturas organizacionais e fluxos de trabalho.
Traços dominantes do DNA digital
Mudança da combinação de partes interessadas tradicionais / não tradicionais. Em um ambiente de rede baseado em equipe, as partes interessadas não tradicionais podem exercer um impacto maior nos resultados. Em vez de serem ignoradas, o que pode ser perigoso, as empresas precisam reconhecê-los e se envolver com eles.
Mudando a natureza e os tipos de trabalho. As inovações digitais invariavelmente mudam o que é trabalho e como ele é feito (por exemplo, robôs, IA). Descrições de cargos, tarefas, habilidades e requisitos geralmente se tornam altamente fluidos.
Perturbação constante. No ambiente digital, algumas interrupções resultam principalmente em ruído, enquanto outras são desintermediadoras. As organizações devem aprender como trabalhar em um ambiente de constantes interrupções.
Critérios de decisão em constante mudança. As entradas e saídas de decisões se multiplicam e mudam dinamicamente com os sistemas digitais, assim como a responsabilidade e o prazo para a tomada de decisões.
Perturbação contínua do ecossistema. A evolução rápida de como o trabalho é realizado, onde o trabalho é realizado e quem o realiza está perturbando os ecossistemas tradicionais e afetando as interações. A capacidade de uma empresa de prosperar, no entanto, é um diferencial importante na era digital.
Inovação contínua. Novas ideias e diferentes aplicações dessas ideias fornecem combustível para a transformação digital. As empresas precisam desenvolver continuamente soluções mais eficazes, incluindo produtos, serviços, processos, tecnologias e modelos de negócios.
Foco no cliente. As organizações devem se concentrar em colocar os clientes no centro de seu pensamento e desenvolvimento em torno de processos, produtos e decisões.
Democratizando a informação. Os sistemas digitais tendem a confundir quem tem acesso a quais dados e de quais fontes.
Construção dinâmica de habilidades. Em organizações caracterizadas pela inovação constante, treinar talentos nas habilidades de adaptabilidade e flexibilidade é fundamental.
Fracassando e aprendendo mais rápido. À medida que as organizações se concentram na velocidade, experimentando rapidamente produtos / serviços novos e incompletos, as equipes precisam de um processo para refletir sobre o que aprenderam, fazer ajustes rápidos e tentar novamente.
Achatando e mudando a hierarquia. Em um ambiente digital, geralmente há muito menos necessidade de camadas de estrutura.
Fluidez. As organizações digitais precisam passar de uma solução ou situação para outra, ajustando-se suavemente às mudanças em áreas como recursos e modelos operacionais.
Geografia agnóstica. Os avanços tecnológicos, combinados com tendências de mobilidade, estão confundindo o significado de lugar ou localização.
Intencionalmente colaborativo. Além de compartilhar, esse comportamento deliberadamente cooperativo precisa ocorrer entre equipes, funções, unidades de negócios e até mesmo fora da organização.
Iterativo. Com base em tentativa e erro, insights analíticos e feedback das equipes de desenvolvimento, as empresas precisam atualizar e melhorar processos, políticas e produtos / serviços.
Modulando limites de risco e segurança. Para que as informações digitalizadas se espalhem, elas devem ser compartilhadas por vários dispositivos. Como resultado, os requisitos de segurança cibernética devem ser equilibrados com as necessidades de acesso.
Morfismo em estruturas de equipe. Em organizações em desenvolvimento digital, as equipes – que podem ser compostas por funcionários, parceiros e fornecedores, entre outros – devem ser capazes de se formar e se desfazer conforme necessário.
Gestão multimodal. Empresas em maturação digital devem ser capazes de funcionar com eficácia em diferentes modos de operação simultaneamente (normalmente sistemas legados e modelos operacionais digitais modernos).
Agilidade. As organizações precisam desenvolver as capacidades para se ajustar a mudanças rápidas e / ou inesperadas. Velocidade, habilidade, alinhamento, desenvoltura e adaptabilidade devem ser atributos cultivados nos funcionários, bem como nos sistemas, políticas, governança e assim por diante.
Mobilidade produtiva. As tecnologias móveis estão remodelando o local de trabalho e exigem uma estratégia eficaz de produtividade, incluindo considerações sobre tecnologia e espaço de trabalho.
Em tempo real e sob demanda. Clientes, fornecedores, parceiros e funcionários agora esperam que as informações e os aplicativos estejam disponíveis em versões atualizadas sob demanda e em uma variedade de plataformas e dispositivos.
Mudança de direitos de decisão e poder. Como consequência de novos fluxos de trabalho e processos, os direitos de decisão mudam, o que significa que a entrada de funcionários e clientes está em um fluxo perpétuo.
Sincronizando formas de trabalhar. A organização legada se move em um ritmo mais lento do que as operações digitais emergentes. Para amenizar o desnível, as empresas devem reconectar a infraestrutura para sincronizar os dois.
Evitando atos digitais aleatórios
A transformação digital representa uma ameaça às formas tradicionais de trabalho. Mexer com a tecnologia, perseguir atos digitais aleatórios aqui e ali, quase invariavelmente desencadeia uma reação. Além disso, tentativas esporádicas de entrar no mundo digital podem iludir os executivos, levando-os a pensar que estão realizando uma transformação, mas essas atividades não permitirão que eles interrompam, nem os protegerão de interrupções.
Em vez disso, ao nutrir o DNA digital, uma organização pode mudar de maneiras que permitem fazer as coisas de maneira diferente e criar novos modelos de negócios geradores de valor. Os CFOs e outros executivos, que podem se sentir mais confortáveis lidando com custos e estratégia, em oposição à cultura, precisam comunicar uma visão de seu futuro digital. Educando e atualizando, eles podem conquistar funcionários – e, no processo, crescer mais e mais forte o DNA digital.
Por mais urgente que a mudança possa parecer, a evolução cultural leva tempo – e não há um estado final. Dada a rapidez com que o mundo está mudando, é impossível para as empresas chegarem ao estado final de serem digitais; eles devem identificar, iterar e evoluir constantemente. Ao equilibrar com sucesso a velocidade com a perfeição, eles fortalecem sua confiança digital. E com o tempo, o objetivo deve ser que o DNA digital se torne indistinguível do DNA cotidiano da organização.
Considerações finais
DNA digital é mais que cultura-digital, pois causa alinhamento holístico e pleno à organização. Além de novas mentalidades transformadoras da cultura, seus valores e atitudes. Novas estratégias de negócios, conectadas com a nova economia, mercado e clientes, experiência do consumidor e modelos de negócio ideais para atendê-los. Processos redesenhados para executar tudo isso e por que não tecnologia como ferramenta viabilizadora de uma verdadeira transformação.
Por favor, se gostou, compartilhe – precisamos difundir informações selecionadas e curadas para possibilitarmos melhores organizações, que melhorarão nossa economia e por consequência proverão maior valor à sociedade. Abraço, @neigrando
Referência
Este artigo é uma tradução levemente adaptada do original da Deloitte: “23 and You: How many traits of digital DNA does your company have?”

