Não culpe a tecnologia pelos problemas da humanidade

Uma coisa que me deixa um tanto chateado é ver pessoas usando a tecnologia, em grupos que tem em sua linha principal de visão e negócios a tecnologia, onde se fala de tendências tecnológicas, tecnologias emergentes e outras aplicadas à vida pessoal e profissional – apresentar artigos e dar ênfase apenas às criticas negativas relacionadas com o tema, como “a tecnologia tirará empregos”, “a tecnologia tem separado as classes sociais”, ou “a tecnologia tem gerado vício e depressão em redes sociais e jogos”.

O problema não está na tecnologia, que em si mesma é apenas ferramenta para aumentar a capacidade humana na resolução dos problemas mais graves da humanidade, além de facilitar a comunicação, acelerar processos de produção, facilitar a existência de novos modelos de negócio, cura para doenças, entretenimento, …

O problema está sim nas pessoas e seus excessos, na falta de equilíbrio e moderação delas, na falta de controle emocional, por deixarem-se levar simplesmente pelas emoções e seus desejos sem usar um mínimo de reflexão e racionalidade por seus próprios atos.

Toda era de transição tecnológica como estamos vivendo (vide ondas da inovação) trouxeram alguns problemas sociais e desempregos (para quem executa alguns tipos de tarefa) inicialmente, mas trouxeram muitas novas oportunidades e empregos em novas atividades profissionais.

Na realidade o que estamos vivendo é um tempo de maior complexidade, como nunca existiu.

Não podemos mais tratar os temas de forma isolada devido a interdependência que existe entre eles.

Assim temos que ampliar nosso raciocínio para além do linear, entender a floresta como um todo e não apenas as árvores isoladamente. E isso exige um certo esforço para mudar nossos próprios modelos mentais, algo que não é nada fácil.

E nesse caminho alguns valores universais continuam válidos, como gentileza, respeito e consideração. E usar de sensibilidade e empatia, pois as pessoas são mais importantes que a tecnologia.

Como profissionais, não podemos apenas destacar problemas, mas sim apresentar e desenvolver soluções centradas no humano, buscar respostas, fazer arte e ciência.

Tenho ciência de que a vida é bela, mas não é justa, principalmente para as classes menos privilegiadas, mas a meu ver, a única forma de melhorar a qualidade geral de todos numa sociedade é via educação e uma melhor gestão governamental.

Viveria a humanidade de forma melhor sem a tecnologia?

Na idade das cavernas, quase não tínhamos tecnologia, sem muitas diferenças sociais (talvez), mas como era a qualidade de vida? Quanto tempo uma pessoa vivia (em anos)?

Cá entre nós, eu e você gostamos de luz e aparelhos domésticos, de algum tipo de veículo para nos levar ao trabalho, de aparelhos celulares sofisticados (smartphone), de notebooks, filmes, jogos, … medicina avançada, …, pois isso tudo é tecnologia nos provendo qualidade de vida e facilitando a conexão entre nós.

50 invenções transformaram o mundo como o conhecemos

As chances são de que, ao ler isso em seu computador, tablet ou telefone, você esteja considerando inúmeras inovações que não existiam 200 anos atrás. Agora, contemple que cerca de 105 bilhões de pessoas andaram pelo planeta, com apenas 5,5% desse número vivo hoje. Pense na quantidade insondável de pessoas que viveram e morreram sem nunca ter usado um banheiro, geladeira ou máquina de lavar. Ou o que dizer da estimativa de que a expectativa de vida na maior parte da história humana foi de apenas 10 anos em média? É porque antibióticos, insulina e cloração da água não existiam há 100 anos.

Confira este infográfico, criado pela Aperion Care, fornecedora de reabilitação de curto prazo, enfermagem qualificada, vida assistida e instalações de vida de longa duração. Ele lista tecnologias que datam de 1850 e inclui inovações atuais e estimativas sobre quantos milhões de pessoas provavelmente viverão mais graças a coisas como inteligência artificial, nanotecnologia e drones.

Perguntas para reflexão

  • Como era a questão do trabalho e do emprego nos tempos em que quase não havia tecnologia? Na idade das cavernas? Na idade antiga? Na idade média?
  • A qualidade de vida melhorou ou piorou com a evolução tecnológica?
  • Seria só ela (a ferramenta) a culpada dos problemas humanos, ou seria a própria estrutura e funcionamento da política, economia e sociedade que tem causado as maiores dores?

Considerações finais

É claro que cabe aos inventores e as empresas refletirem e considerarem as questões éticas, sociais e ambientais relacionados aos produtos desenvolvidos e fornecidos, assim como seus usuários, que podem utilizá-las tanto para o bem quanto para o mal. Cabe também ao poder publico conhecer e regulamentar sempre que necessário.

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Escolhendo os sócios ao empreender

Na jornada de empreender é preciso: um motivo (propósito); uma razão (por que?); uma paixão (ideia); um desejo/vontade (querer fazer); um comportamento (escolha de valores); um jeito próprio de ser (estilo); escolher um caminho (estratégia); escolher os companheiros (sócios e equipe); estabelecer os marcos; tentar prever os obstáculos (dificuldades, riscos); obter os recursos necessários; planejar; saber como executar (desenvolver, produzir, divulgar, vender, entregar); e muito mais.

Segundo  Joseph Schumpeter[1], o empreendedor precisa ser alguém versátil, que possui as habilidades técnicas para saber produzir, e capitalista, que consegue reunir recursos financeiros, organizar as operações internas e realizar as vendas da sua empresa.

Empreender também requer fazer escolhas, como por exemplo: iniciar individualmente (só) ou coletivamente (com sócios)? Atuar como serviços, comércio ou indústria? Ter um negócio próprio ou uma franquia? Atender empresas (B2B) ou usuários finais (B2C); Utilizar um canal de vendas físico ou virtual?

Tendo em vista os desafios e as habilidades necessárias para construir e gerir um negócio, decidir fazê-lo com um ou mais sócios é uma opção atraente. Mas como escolhê-los? E como alinhar as expectativas de cada um, manter bom relacionamento e evitar conflitos?    

            É disso que trata este artigo, questões societárias básicas.

Compartilhando o peso de empreender

Quando se pensa em ter um sócio para dividir o lucro do negócio, a primeiro ponto a se levar em conta é por que ter um sócio? Ou, ainda melhor, para que é que eu preciso ter um sócio?

Percebe-se um ambiente de negócios cada vez mais imprevisível, dinâmico, ininterrupto e acelerado. Empreender nesse ambiente não é uma tarefa fácil, pois conforme BENNETT e LEMOINE (2014) agora a gestão inclui volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade,  exigindo mais flexibilidade e agilidade aos decisores das empresas.

Em maio de 2011, ocorreu na FIAP, em São Paulo, um evento de tecnologia chamado GoaP – Geeks on a Plane, e nele, um dos palestrantes, investidor da região de Silicon Valley dos EUA, disse que a maioria das startups que obteve sucesso por lá, tinha dois ou mais sócios e destacou que carregar todo o peso de uma empresa sozinho não é uma tarefa fácil.

O relatório Startup Genome[2] aponta que fundadores solitários de empresas levam 3,6 vezes o mais tempo para atingir o estágio de crescimento em escala da startup do que as empresas com dois sócios.  Ou seja, sociedades com dois parceiros de negócios em sintonia geram sinergia, “1 + 1 é mais que 2”.

Mesmo sem ter as estatísticas do Brasil nesta área, pode-se imaginar cenários semelhantes nos quais fica mais fácil se conduzir uma empresa compartilhando as responsabilidades do negócio com um bom parceiro, alguém ético, que tenha paixão pelo que faz, muita vontade de trabalhar, e com competências complementares às do cofundador, suportando as pressões do dia-a-dia e transmitindo energia positiva para incentivar as pessoas a sua volta.

Vale lembrar que, por diversas razões, o risco de continuidade em uma empresa dependente de apenas um sócio é maior, podendo inclusive dificultar o acesso a recursos financeiros de investidores.

Sócio é um recurso muito caro

TRIAS DE BES (2008), aponta o sócio como o mais caro dos recursos de uma empresa, pois é com ele que o lucro será dividido. Um sócio é um recurso a mais, porém, às vezes, é possível encontrar outras formas de substituí-lo sem precisar fornecer participação na sociedade.

Um dos motivos que pode levar o empreendedor a se associar é o medo. O medo de empreender, de correr riscos, errar ou de não dar conta do que precisa ser feito; o medo de estar só e, às vezes, até mesmo o medo de tomar decisões. Para empreender sozinho, é necessário ser capaz de suportar as pressões do dia a dia, principalmente as que são causadas por eventos inesperados. Esses eventos podem ser internos, como um colaborador chave pedir demissão de uma hora para outra, ou podem ser externos, como um fornecedor que não entregou a mercadoria no prazo, o aumento repentino de custo de insumos, um novo concorrente que surgiu ou até mesmo alguma mudança radical na economia. É preciso saber tomar decisões, e rápido, mas não apressadamente. (TRIAS DE BES,2008).

Empreender requer uma visão particular das coisas, uma mistura de intuição e visão de negócio, difícil de compartilhar e alinhar com a visão de outras pessoas. Decidir sozinho permite decidir rápido, e isto é uma vantagem.

Em sociedade, algumas decisões requerem a aprovação de todos ou pelo menos da maioria, e isto pode levar algum tempo. Nesse sentido, para as coisas acontecerem rápido, alguém deve ser designado como responsável pelas decisões finais, com poder e autoridade de comando, direção e ordem.

Algumas perguntas para reflexão:

  • É realmente necessário um sócio e dividir parte do capital?
  • O que esse sócio pode fazer pelo negócio que eu não posso?
  • A escolha desse parceiro de negócios está sendo feita pela razão certa? Qual a motivação?
  • Que capital (R$) e quais outros recursos físicos e intangíveis o sócio trará para o negócio? O quanto de valor realmente será acrescentado ao negócio?
  • Os objetivos de curto, médio e longo prazos estão em sintonia?
  • Existem outras maneiras para preencher a falta de conhecimento ou capacidades sem que eu precise ter um sócio?

Alguns recursos que podem substituir a necessidade de um sócio:

  • Se precisar apenas de dinheiro, procure uma linha de crédito, um fundo de capital de risco, um investidor ou um banco.
  • Se precisar de ajuda, contrate um profissional.  Preferencialmente alguém que seja especialista na função ou atividade escolhida: gestor administrativo, gestor financeiro, gestor de vendas, ou outro.
  • Se precisar de alguém para fazer uma parte do negócio, a qual não domina e não faça parte do núcleo do negócio, terceirize para quem tem competência.
  • Se quiser companhia, para não tomar decisões precipitadas, converse com outros empreendedores; participe de feiras e eventos, fóruns de negócio etc.
  • Se precisar de conselhos técnicos, contrate um consultor;
  • Se precisar de conselhos legais, contrate um advogado.

Observações:

  • Se decidir contratar alguém ou terceirizar procure fazer isto com cautela, seja criterioso na seleção dos candidatos e só faça isso no momento que realmente estiver precisando da pessoa ou empresa, preferencialmente depois de ter bons clientes pagantes, ou seja, fluxo de caixa positivo.

Características do Sócio Ideal

Um bom sócio, mais do que um recurso, é alguém integro, de bom caráter, com perfil complementar de personalidade e de competências, que tem muita vontade de trabalhar, sintonizado com os demais sócios e com os objetivos do negócio e que realmente agregue valor à sociedade. É preciso que tal parceiro de negócios tenha paixão, coragem, preparo e determinação para empreender.  Não pode ser apenas alguém legal que parece levar jeito para a coisa. Vale lembrar que a escolha desse novo cotista é bilateral ou multilateral, ou seja, tanto a empresa quanto o candidato estarão decidindo. Para isso, é importante conhecer melhor a si mesmo e o outro, o que pode levar algum tempo. (GERBER, 2012; WELCH, 2005).

WELCH (2005), ao discorrer sobre liderança, apresenta um método que utilizou na General Electric. Nele, apresenta algumas características essenciais a um líder:

  • Integridade (sinceridade) – pois diz a verdade, cumpre as promessas, assume responsabilidades por suas ações passadas, reconhece seus erros e os conserta, conhece as leis do país e as regras da empresa e as cumpre, joga para ganhar de maneira honesta seguindo as regras.
  • Inteligência – pois têm curiosidade intelectual, conhecimentos e capacidade para trabalhar com outras pessoas.
  • Maturidade – pois enfrenta bem as situações de sufoco, sabe lidar com o estresse e retrocessos, nos momentos maravilhosos curte o sucesso, respeita as emoções alheias, é confiante, mas não é arrogante, tem senso de humor, principalmente a respeito de si mesmo.

Se o candidato passou por estas características essenciais, WELCH (2005) então continua em frente, recomendando verificar os 4Es e 1P a saber:

  • Energia positiva – pois avança, prospera na ação e curte a mudança, é geralmente extrovertido e otimista, conversa com naturalidade e faz amizade com facilidade, começa o dia com entusiasmo e geralmente o termina da mesma maneira, raramente parece cansado durante a jornada, não se queixa do excesso de trabalho, gosta de trabalhar mas também gosta de se divertir e ama a vida.
  • Energização – tem a capacidade de energizar os outros, inspirar a equipe a aceitar desafios e/ou o impossível e vibrar com a missão, deve conhecer profundamente o negócio e ter forte capacidade de persuasão.
  • Estofo – ou seja, a coragem de tomar decisões difíceis do tipo sim ou não, sabe quando partir para a ação, mesmo com poucas informações arrisca e usa a intuição.
  • Execução – faz o que é preciso fazer (o trabalho), converte decisões em ações e persiste até a conclusão, supera as resistências, vence o caos e transpõe os obstáculos inesperados, sabe vencer e conseguir resultados.
  • Paixão – tem uma vibração sincera, profunda e genuína em relação ao trabalho, importa-se de verdade com a vitória dos colegas, colaboradores e amigos; ama aprender a crescer e é estimulado/a quando outras pessoas ao redor também aprendem e crescem; não vibra apenas com o trabalho, demonstra paixão por tudo, pois tem a seiva da vida nas veias.

Esses podem parecer adjetivos de super-herói, mas são um ideal a buscar. É raro encontrar um profissional para gestão ou um pretendente a sócio com todas essas qualidades, mas essa lista, pelo menos, serve como guia comparativa, nos ajudando a avaliar as características do possível sócio. Podem também servir para uma avaliação pessoal de qualidades e defeitos, como instrumento de autorreflexão.

Ao longo do convívio e/ou durante uma boa conversa com perguntas apropriadas é possível identificar os comportamentos típicos da pessoa, seus hábitos, seus pontos fortes e seus pontos fracos. Afinal, o objetivo é encontrar alguém competente, leal, ético/a, de confiança e comprometido/a.

Perfis de sócios a serem evitados

Segundo GERBER (2012) Ao analisar um potencial sócio deve-se considerar alguns perfis que, quando são exagerados devem ser evitados:

  • O dono da ideia – a ideia do negócio é importante e tem valor, mas sem a devida execução, esse valor fica próximo de zero. Se o provável sócio é apenas a pessoa que trouxe a ideia do negócio, isso não basta. Para fazê-la tornar-se realidade, é preciso investimento e muito trabalho. O dono da ideia terá de participar de tudo, precisará fazer sua parte.
  • O perfeccionista – perfeccionismo[3] é um defeito e não uma virtude. Muitas vezes, a busca da perfeição em um plano ou uma tomada de decisão pode mascarar uma procrastinação ou o medo de fazer acontecer. O profissional deve buscar a excelência e mitigar riscos, mas deve também ter equilíbrio e iniciativa.
  • O acadêmico – a base acadêmica pode ser muito útil ao negócio, um doutor pesquisador pode ter muito a contribuir, mas é bom certificar-se de que o potencial sócio saiba distinguir a teoria da realidade. Na prática nem tudo acontece como ensinam os livros, sendo necessário considerar a realidade do mercado entre outros fatores.
  • O dono da razão – algumas pessoas pensam que estão sempre certas, são influenciadoras e até mesmo manipuladoras. Têm dificuldade de ouvir e aceitar as ideias e opiniões de outras pessoas. Muitas vezes são verdadeiros ditadores que odeiam ser contrariados. Vale lembrar que a empatia, a colaboração e a boa comunicação são essenciais em uma sociedade.
  • O folgado – a vida pessoal é importante, mas a fase inicial de uma empresa vai exigir sacrifícios. Muitos dizem que haverá alegria, mas que exigirá dos sócios: “sangue, suor e lágrimas”, ou seja, muito trabalho. Algumas pessoas tendem a não dedicar o mesmo tempo ao trabalho do que outras. Elas sempre têm algo pessoal urgente e/ou importante a fazer, estão sempre precisando de uns dias de folga e dificilmente repõem o tempo usado com horas de trabalho adicional em outros dias. É preciso cuidado para não trazer para o negócio alguém que nunca aparece. Antes de escolher um sócio, verifique se o estágio atual de vida dele ou dela é compatível com o seu, exemplo: solteiro/a versus casado/a com filhos pequenos.
  • O gastão – uma empresa iniciante geralmente não tem muitos recursos financeiros. Um sócio “boa vida”, que não tem responsabilidade com o gasto do dinheiro da empresa ou que mistura despesas pessoais com as da sociedade pode destruir o negócio em pouco tempo. O ideal é alguém que valorize cada centavo ganho ou a ser investido no negócio. É fundamental estabelecer claramente de que forma o dinheiro da empresa será usado.

Além desses perfis exagerados, existe um outro tipo de sócio que deve ser considerado com cuidado: o parente. Muitas empresas familiares dão certo, a confiança costuma ser o principal motivo para esse tipo de sociedade, mas vale lembrar que ter o marido ou a esposa como sócios pode prejudicar o relacionamento do casal. Ter o irmão ou irmã como sócios pode ser muito interessante a princípio, mas imagine se não der muito certo trabalhar juntos, como administrar os conflitos? Como seria a separação? Uma coisa é despedir um funcionário, outra é terminar a sociedade com um ex-amigo, por exemplo, já a pior situação de todas é ter que pedir um rompimento societário com um parente e depois ter que encontrá-lo no círculo familiar.

Uma conversa franca

Antes de escolher o sócio ou a sócia é bom ter uma conversa a dois de portas fechadas, e, então dialogar sobre: visão política, religiosa, time que torcem, maus hábitos e estilo de trabalho; dívidas e/ou obrigações financeiras que cada um tem; informações que seriam reveladas ao checar antecedentes de crédito; se há alguma disputa jurídica pessoal ou corporativa em aberto ou do passado, ou potenciais problemas que podem surgir a qualquer momento; obrigações pessoais, empresariais ou de estudo que podem afastá-lo/a das atividades na empresa; desejos de participação de capital e trabalho na sociedade, bem como outros pontos a serem considerados em um acordo formal; informações sobre cônjuge, pais, irmãos e filhos; visão para o negócio e outros pontos que achar relevante para ajudar na tomada de decisão de se associar ou não. Lembre-se de que a confiança mútua será fundamental na caminhada. (GERBER, 2012).

O que deve ser combinado entre os sócios

Ao escolher um ou mais sócios para o empreendimento, algumas coisas precisam ser combinadas e ficar muito claras. Advogados e investidores, recomendam ter tudo documentado num acordo de cotistas[4], um documento que complementa o contrato social[5] exigido por lei. Quando se coloca o que foi combinado num documento, fica difícil alguém falar depois em uma conversa: “eu não disse isso” ou “não foi bem isso que eu quis dizer”. Antes mesmo da sua função legal, esse documento tem o papel de lembrar os envolvidos sobre aquilo que foi combinado e, por isso, deve ser muito bem redigido, lido, e conferido antes de ser assinado pelas partes. Isso separa o relacionamento de amizade do profissional e evitará, ou pelo menos diminuirá, muito os conflitos, discussões e até mesmo as brigas no futuro.  O apoio e as orientações de um advogado experiente são recomendados neste caso, e é claro que o acordo poderá ser alterado no futuro com o consentimento de todos.

O que deve conter o acordo de cotista

O mais importante é saber qual será o papel de cada um na sociedade. Não só o cargo, mas também as funções, ou seja, qual “chapéu” ou quais os “chapéus” que usarão. Quais serão suas responsabilidades e qual será a remuneração por esse trabalho. É importante separar bem a participação no lucro da empresa, que está relacionada com as cotas da sociedade, da remuneração pelas atividades. 

Outro item fundamental é com relação à saída de um dos sócios, a conhecida cláusula de exit. É importante combinar desde o início da sociedade como será a separação, ou seja, o que será feito se um dos sócios quiser deixar a empresa, ou, ainda mais grave, se um dos sócios quiser que o outro deixe a empresa.

Além de estipular o capital inicial, deve ser combinado em que situações poderão ser feitos aportes adicionais de dinheiro e como serão os procedimentos.

O documento deve indicar quem autoriza pagamentos e assina os cheques.

Cuidados adicionais devem ser tomados com relação a sócios investidores, que só entram com o capital no negócio.

Observação:

As sociedades de responsabilidade limitada correspondem a mais de 90% das sociedades (empresas com mais de um sócio) legalmente formalizadas no Brasil. Uma sociedade assim visa à proteção do patrimônio pessoal dos sócios, ou seja, se a sociedade não der certo ou tiver um insucesso comercial, os sócios responderão no limite do capital social pré-estabelecido em contrato. E, assim estará preservado o patrimônio pessoal de cada um dos sócios. No entanto, é preciso tomar cuidado para ter impostos e taxas pagos em dia e estar atento para não misturar dinheiro pessoal com o da pessoa jurídica. Se houver um insucesso e for constatada uma confusão patrimonial ou sonegação fiscal, o juiz poderá considerar que os bens pessoais foram adquiridos com o dinheiro da empresa, então cai por terra a responsabilidade limitada.

Considerações finais

Este artigo descreveu de forma introdutória e resumida informações importantes sobre a relação entre sócios, porém, conforme a introdução, na jornada empreendedora, existem muitas outras áreas do conhecimento a considerar na criação e gestão de uma empresa, assim espera-se que um potencial empreendedor ou sócio – busque pelo menos um mínimo de tais conhecimentos, além do apoio de mentores e advisors, para reduzir os riscos e incertezas que fazem parte de um negócio na prática.


Autor

Nei Grando – diretor executivo da STRATEGIUS, é consultor e palestrante em estratégia, inovação, transformação digital, organizações exponenciais e cidades inteligentes; pesquisador em inteligência artificial; conselheiro de empresas e mentor de startups. Autor do blog neigrando.com – Mestre em ciências pela FEA-USP, graduado em TI pela UEM, com MBA em Administração pela FGV e cursos de extensão em Estratégia e Gestão do Conhecimento (FGV) e Inovação e Redes Sociais (ESPM). Teve duas empresas de software e soluções de TI, onde conduziu o desenvolvimento de portais e plataformas digitais de negócios, internet-banking, home broker, CRM, GED, GC e outros. É o organizador e um dos autores do livro “Empreendedorismo inovador”, e autor em outros três. Como professor, ministrou as disciplinas de “Strategic Thinking” e “Planejamento Estratégico” em curso MBA da FIAP, “Intelligence Driven Decision” e “Fundamentos de Inteligência Artificial” em curso MBA da ESPM e como prof. convidado, no curso “Laboratório de Startups” do CIC-ESPM.

Notas

[1] SHUMPETER (1934)

[2]Veja mais sobre o Startup Genome Report 2011, resultante de pesquisa foi feita com mais de 660 empresas de TI para levantar características de Startups de sucesso, em:

[3] Segundo a Wikipidia: O perfeccionismo é um distúrbio neurótico no qual a pessoa tem um sentimento constante de insatisfação com seu desempenho e dúvidas sobre a qualidade de seu trabalho, o que leva o indivíduo a escrupulosidade, verificações de pormenores, obstinação, prudência e rigidez excessivas prejudicando a sua pontualidade e eficiência.

[4] Esse acordo é similar ao Acordo de Acionistas utilizados pelas sociedades anônimas (S.A.). IBGC (2019), chama este documento de Acordo de Fundadores na fase pré-operacional e Acordo de Sócios após a empresa ser formalizada e operacional.

[5] Orientações para Elaboração de Contrato Social: http://www.dnrc.gov.br/Servicos_dnrc/Orientacoes_e_modelos/elaboracao_contrato.htm

Modelo de Contrato Social: http://www.dnrc.gov.br/Servicos_dnrc/Orientacoes_e_modelos/modelo_basico_contrato.htm

Referências

BENNETT, Nathan; LEMOINE, G. James. What a difference a word makes: Understanding threats to performance in a VUCA world. Business Horizons, v. 57, n. 3, p. 311-317, 2014.

BRASIL. Lei 6.404. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. 15 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20 abr. 2019.

FDC – Fundação Dom Cabral. Causa da mortalidade das startups brasileiras: como aumentar as chances de sobrevivência no mercado. 2012. Disponível em: < https://www.fdc.org.br/conhecimento/publicacoes/artigo-29767>. Acesso em: 20 abr. 2019.

GERBER, Scott. Nunca procure um emprego! Dispense o chefe e crie o seu próprio negócio sem ir à falência. São Paulo: Évora, cap.6, p.92-103, 2012.

GRANDO Nei. Só ou acompanhado? A escolha de sócios. In: GRANDO, Nei. (ORG). Empreendedorismo inovador: Como criar Startups de Tecnologia no Brasil. São Paulo: Évora, cap.4, p.54-72, 2012. 

IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Governança Corporativa para Startups & Scale-ups. São Paulo: IBGC, 2019.

SCHUMPETER, Joseph A. The theory of economic development: An inquiry into profits, capital, credit, interest, and the business cycle. Transaction publishers, v.55, 1934.

STARTUP COMMONS. “Startup Development Phases”. Disponível em: <http://www.startupcommons.org/startup-development-phases.html&gt;. Acesso em: 20 abr. 2019.

TRIAS DE BES, Fernando. O Livro Negro do Empreendedor: Depois não diga que não foi avisado. Rio de Janeiro: Best Seller, cap.6, p.56-61, 2008.

WELCH, Jack.  Paixão por Vencer. São Paulo: Campus, 2005

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Por uma sociedade melhor, quem sabe 5.0

Estamos no limite da sociedade atual e o mundo agora está enfrentando uma grande maré de mudanças. A tendência da transformação digital não pode ser interrompida e está mudando drasticamente muitos aspectos da sociedade, incluindo administração pública, estrutura industrial, emprego e vida privada das pessoas.

Existem inúmeras direções nas quais a sociedade será promovida pelo desenvolvimento tecnológico. Embora a tecnologia possa trazer melhorias como padrões de vida mais altos e maior comodidade, também pode ter efeitos negativos, como impacto no emprego, disparidade crescente e distribuição desigual de riqueza e informação. Cabe a nós decidir qual direção seguir. Devemos considerar que tipo de sociedade queremos criar, em vez de tentar prever o tipo de sociedade que será.

O que é o Sociedade 5.0?

“O novo modelo do Japão para uma sociedade superinteligente, a Sociedade 5.0 é um conceito de maior alcance do que a Quarta Revolução Industrial, pois prevê a transformação completa do modo de vida japonês, desfocando a fronteira entre o ciberespaço e o espaço físico.” – Yasushi Sato, da Universidade de Niigata (via relatório da Unesco)

O termo refere-se à ideia de que a Sociedade 5.0 seguirá a Sociedade 1.0 (caçador-coletor), Sociedade 2.0 (agrícola), Sociedade 3.0 (industrializada) e Sociedade 4.0 (informações). Também chamada de “Sociedade Superinteligente” ou de “Sociedade da Imaginação“, a Sociedade 5.0 prevê um sistema socioeconômico sustentável e inclusivo, alimentado por tecnologias digitais como análise de big data, inteligência artificial (AI), Internet das Coisas e robótica. O “sistema ciberfísico”, no qual o ciberespaço e o espaço físico estão fortemente integrados, torna-se um modo tecnológico generalizado que suporta a Sociedade 5.0. Para alguns, o conceito soou como uma visão elevada no início, sem uma perspectiva clara de como ele realmente se desenrolaria. Hoje, inspira entusiasmo.

O Japão tomou a iniciativa de guiar o mundo em direção a um futuro melhor, mostrando um conceito ideal da próxima sociedade. A Sociedade 5.0 será uma Sociedade da Imaginação – conforme descrita no relatório, Keidanren (Federação Empresarial do Japão). Espera-se que as pessoas exerçam rica imaginação para identificar uma variedade de necessidades e desafios espalhados pela sociedade e os cenários para resolvê-las, bem como criatividade para realizar essas soluções usando tecnologias e dados digitais. Nesta nova sociedade, a transformação digital combina com a criatividade de diversas pessoas para promover a “solução de problemas” e a “criação de valor” que nos levam ao desenvolvimento sustentável. É um conceito que pode contribuir para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pelas Nações Unidas.

A transição para a Sociedade 5.0 é considerada semelhante à “Quarta Revolução Industrial“, na medida em que ambos os conceitos se referem à atual mudança fundamental do nosso mundo econômico em direção a um novo paradigma. No entanto, a Sociedade 5.0 é um conceito de maior alcance, pois prevê uma transformação completa do nosso modo de vida.

Na Sociedade 5.0, qualquer produto ou serviço será entregue de maneira ideal às pessoas e adaptado às suas necessidades. Ao mesmo tempo, a Sociedade 5.0 ajudará a superar desafios sociais crônicos, como envelhecimento da população, polarização social, despovoamento e restrições relacionadas à energia e ao meio ambiente.

Na Sociedade 5.0, veículos e drones autônomos levarão bens e serviços para pessoas em áreas despovoadas. Os clientes poderão escolher on-line o tamanho, a cor e o tecido de suas roupas diretamente na fábrica de roupas antes de entregá-las por drone. Um médico poderá consultar seus pacientes no conforto de sua própria casa através de um tablet especial. Enquanto ele os examina à distância, um robô pode estar aspirando o tapete. No lar de idosos, outro robô pode estar ajudando a cuidar dos idosos. Na cozinha da casa de repouso, a geladeira monitorará a condição dos alimentos estocados para reduzir o desperdício. A cidade será alimentada por energia fornecida de maneiras flexíveis e descentralizadas para atender às necessidades específicas dos habitantes. Nos arredores, tratores autônomos trabalharão nos campos enquanto, no centro da cidade, sistemas ciberfísicos avançados manterão a infraestrutura vital e estarão à disposição para substituir técnicos e artesãos aposentados, caso não haja jovens suficientes para preencher a lacuna.

As liberdades da sociedade 5.0

Na Sociedade 5.0, as pessoas serão libertadas de várias restrições que as encarnações anteriores até a Sociedade 4.0 não poderiam superar e obterão a liberdade de buscar estilos de vida e valores diversos.

As pessoas serão libertadas do foco na eficiência. Em vez disso, a ênfase será colocada na satisfação das necessidades individuais, na solução de problemas e na criação de valor.

As pessoas serão capazes de viver, aprender e trabalhar, livres de influências supressoras sobre a individualidade, como discriminação por gênero, raça, nacionalidade etc. e alienação por causa de seus valores e modos de pensar.

As pessoas serão libertadas da disparidade causada pela concentração de riqueza e informação, e qualquer pessoa poderá obter oportunidades de desempenhar um papel a qualquer momento, em qualquer lugar.

As pessoas serão libertadas da ansiedade sobre o terrorismo, desastres e ataques cibernéticos e viverão com mais segurança em redes reforçadas para lidar com as questões do desemprego e a pobreza.

As pessoas serão libertadas de recursos e restrições ambientais e poderão viver vidas sustentáveis ​​em qualquer região.

Em resumo, tornaremos a Sociedade 5.0 uma sociedade na qual qualquer pessoa pode criar valor a qualquer momento, em qualquer lugar, com segurança e em harmonia com a natureza.

Uma revisão de assistência médica

Tomando a assistência médica como exemplo, forneceremos atendimento personalizado e preventivo, coletando e analisando dados individuais de saúde e médicos ao longo da vida, para que as pessoas possam viver mais tempo com boa saúde. Se o Japão for bem-sucedido na criação de um sistema de saúde, ele poderá ser aplicado a outros países que enfrentam uma sociedade em envelhecimento no futuro próximo, contribuindo assim para a consecução do 3º ODS.

Keidanren está pedindo ao governo que estabeleça a infraestrutura para vincular dados médicos e de saúde e disponibilizá-los para vários atores para fornecer melhores serviços de saúde. Ao mesmo tempo, continua o diálogo com os setores acadêmico e médico para quebrar o secionalíssimo e construir parcerias para um sistema abrangente de saúde.

Keidanren está trabalhando em conjunto com o governo japonês e outras partes interessadas na reforma das políticas corporativas e trabalhistas, desenvolvimento de recursos humanos, estabelecimento de políticas de dados, aprimoramento da pesquisa e desenvolvimento, reforma governamental etc. para a realização da Sociedade 5.0. Ele deseja compartilhar a meta com seus parceiros em todo o mundo e cocriar o futuro.

A Society 5.0 transformou a política de Ciência, Tecnologia e Inovação em uma agenda política dominante

O conceito grandioso e um tanto nebuloso da Sociedade 5.0 tornou-se gradualmente uma peça central da estratégia de crescimento em que a política de ciência, tecnologia e inovação (CTI) tornou-se uma agenda dominante. O orçamento regular do Japão para ciência e tecnologia, que permaneceu parado nos exercícios de 2002 a 2017 em cerca de 3,6 trilhões de ienes (US$ 33 bilhões), subitamente subiu para 3,8 trilhões de ienes (US$ 35 bilhões) em 2018 e para 4,2 trilhões ienes (US$ 38 bilhões) em 2019. Embora isso se deva em parte a mudanças técnicas na maneira como o orçamento é calculado, um aumento tão substancial seria inconcebível apenas alguns anos atrás. Estimulados por uma força motriz política, o investimento do Japão no desenvolvimento e aplicação de tecnologias digitais, bem como em pesquisa básica, acaba de receber um impulso significativo.

Olhando para trás, foi em 2016 que o conceito de Sociedade 5.0 apareceu pela primeira vez no Quinto Plano Básico de Ciência e Tecnologia, uma estratégia nacional de cinco anos formulada pelo Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação (CSTI). O plano incorporou as conclusões de deliberações intensivas de comitês de especialistas administrados pelo Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia (MEXT) e pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) desde 2014. Esse processo levou a Sociedade 5.0 sendo estabelecida como uma visão do governo para o futuro do Japão.

Suporte robusto da indústria para o Society 5.0

Ao mesmo tempo, a Sociedade 5.0 obteve um suporte robusto da indústria. Em 2015 e 2016, ministros e líderes empresariais relevantes se reuniram várias vezes para discutir a direção que o Japão deveria tomar. Apenas alguns meses depois que o CSTI publicou o Quinto Plano Básico de Ciência e Tecnologia, a Federação Empresarial do Japão (Keidanren), que agrupa as maiores empresas do país, publicou sua própria proposta de política para a Sociedade 5.0. Um estreito relacionamento desenvolvido entre o governo e a indústria, principalmente com Keidanren, deu à Sociedade 5.0 o momento de avançar rapidamente.

A colaboração entre governo e indústria se estendeu a uma ampla gama de campos. Sob o Conselho de Estratégia de Crescimento – Investindo para o Futuro, composto por ministros, CEOs e acadêmicos da empresa, foram criados comitês setor-governo para cinco temas principais:

  • mobilidade de próxima geração / cidade inteligente,
  • serviços públicos inteligentes,
  • infraestrutura de última geração,
  • FinTech (tecnologia financeira) / sociedade sem dinheiro e
  • cuidados de saúde de próxima geração.

Esses comitês são compostos por representantes comerciais e diretores de divisão dos ministérios.

A Estratégia de tecnologia de Inteligência Artificial (IA) do Japão é um pilar fundamental da Sociedade 5.0. Caracteriza a IA como um serviço e prevê três fases para o desenvolvimento e uso da IA:

  • expansão do uso da IA ​​orientada a dados em cada domínio de serviço,
  • uso geral de IA e dados entre os serviços e
  • a formação de ecossistemas através de uma complexa fusão desses serviços.

A Estratégia de Tecnologia de Inteligência Artificial aplica essa estrutura a três áreas prioritárias da Society 5.0, a saber, saúde, mobilidade e produtividade.

Mais recentemente, o CSTI tem deliberado sobre princípios éticos relacionados à pesquisa, desenvolvimento e uso da IA. Ele dará os retoques finais em seus Princípios de uma Sociedade de IA centrada no ser humano em março deste ano.

Sociedade 5.0 voltada para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável

Mais recentemente, um Sociedade 5.0 assumiu um novo significado. Tanto a estratégia de crescimento do Gabinete quanto as políticas de Keidanren esperam que a Sociedade 5.0 faça uma grande contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Por que a sociedade japonesa está comprometida com a Society 5.0?

Por que o Japão como um todo parece estar cada vez mais comprometido com a visão da Sociedade 5.0? Por trás do crescente zelo pela Society 5.0, parece haver um desejo ardente por parte do governo e da comunidade empresarial japonesa de aproveitar esta oportunidade de ouro para reverter as tendências adversas remanescentes. A economia cresceu menos de 2% em 2017 por um ano consecutivo. O Japão experimentou uma economia econômica prolongada desde os anos 90, devido a uma combinação de fatores: concorrência global cada vez mais intensa, uma estrutura em mudança da criação de valor na nova economia digital, despovoamento e envelhecimento, e crescente pressão fiscal decorrente do aumento dos gastos do governo social.

O Japão pode superar essas vantagens seguindo a Sociedade 5.0, mesmo que não tenha sido uma das principais luzes das indústrias digitais até agora, o país poderá tirar proveito dos seus pontos fortes tradicionais na engenharia mecânica e materiais para desenvolver sistemas ciberfísicos avançados.

O Japão está enfrentando alguns problemas difíceis, mas o governo e as lideranças políticas veem o conceito da Sociedade 5.0 como uma maneira de superá-los e compartilhar sua experiência com o resto do mundo, já que outros países podem encontrar problemas relacionados mais cedo ou mais tarde.

Os 5 muros a serem “quebrados” ao mudar para a Society 5.0

Que muros são esses e como o Japão pretende derrubá-los?

O muro dos Ministérios e Agências.

Com a necessidade de, citando o documento da posição de Keidanren, uma “formulação de estratégias nacionais e integração do sistema de promoção do governo”. Isso inclui a arquitetura de um ‘sistema IoT útil‘ e uma função de laboratório de ideias.

O muro do sistema jurídico

Pelo qual as leis precisam ser desenvolvidas para implementar técnicas avançadas. Na prática, isso também significaria reformas regulatórias e um empurrão na digitalização administrativa (boas notícias para todo o pessoal de captura de documentos e gerenciamento de informações por aí).

O muro das tecnologias

A busca pela formação da “base do conhecimento”. É claro que os dados acionáveis ​​desempenham um papel fundamental aqui, assim como todas as tecnologias / áreas para protegê-los e aproveitá-los, da segurança cibernética à robótica, nano, bio e tecnologia de sistemas. O documento também menciona um sério compromisso de P&D em vários níveis.

O muro de recursos humanos

Reforma educacional, alfabetização em TI, ampliando os recursos humanos disponíveis com especializações em habilidades digitais avançadas são apenas alguns deles. Interessante: se o artigo se tornar realidade, o Japão abrirá suas portas para profissionais altamente qualificados em áreas como segurança e ciência de dados. Pelo menos tão interessante: “a promoção da participação das mulheres para descobrir talentos em potencial”.

Implicações sociais, ética e aceitação social por todas as partes interessadas

Espere, são apenas quatro muros. De fato. O quinto é bastante ousado e muito abrangente: “o muro da aceitação social”. De todos, este é o aspecto mais relacionado à sociedade.

O “esboço” de Keidanren não apenas enfatiza a necessidade de um consenso social, mas também de um exame minucioso das implicações sociais e até questões éticas, entre outros no que diz respeito à relação homem-máquina e, como já foi dito, até questões filosóficas como como definição do que felicidade e humanidade individuais significam.

Considerações finais

Obviamente, na prática, a Indústria 4.0 e as organizações em geral serão os principais componentes do Sociedade 5.0, mas não é a indústria sozinha: trata-se de todas as partes interessadas, incluindo cidadãos, governos, academia e assim por diante.

Se uma mudança social tão vasta quanto esta funcionará no Japão e o muro de aceitação social será derrubado é uma pergunta que só será respondida no futuro. Assim, é melhor não fazermos previsões a esse respeito, pois seria uma arrogância ocidental da nossa parte e um grande erro.

Então fica a pergunta: quem sabe poderíamos imaginar esse modelo no Brasil e em outros países?

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Sobre mim:

Nei Grando – diretor executivo da STRATEGIUS, teve duas empresas de tecnologia, é mestre em ciências pela FEA-USP com MBA pela FGV, organizador e autor do livro Empreendedorismo Inovador, é mentor de startups e atua como consultor, professor e palestrante sobre estratégia e novos modelos de negócios, inovação, organizações exponenciais, transformação digital e agilidade organizacional.

Detalhes: aqui, Contato: aqui.

Referências:

Este post é fruto de uma pesquisa com resumo e tradução adaptada dos artigos:

  • Japan pushing ahead with Society 5.0 to overcome chronic social challenges. UNESCO, fevereiro de 2019.
  • Modern society has reached its limits. Society 5.0 will liberate us. World Economic Forum, Janeiro de 2019.
  • From Industry 4.0 to Society 5.0: the big societal transformation plan of Japan. i-SCOOP, 2017.
  • E-Digital: Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, conforme Decreto 9.319 de 21/03/2018

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